sexta-feira, 24 de abril de 2009
Um símbolo de resistência, autor, Damião Metamorfose.
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O símbolo de resistência,
Jerico, jegue ou jumento.
Depois dos tempos modernos
Ou vive em confinamento
Ou em beiras de estradas
Causando atropelamento
Sua vida é um tormento
Acho isso uma maldade
Quem antes era o transporte
Da classe necessidade
Hoje vive a comer lixo
Nos entulhos da cidade
Acho que ele tem saudade
Do tempo da escravidão
Trabalhando pro seu dono
Sem ter outra opção
Mas ao menos com direito
A capim verde e ração
O jumento é nosso irmão
Quem falou? Luis Gonzaga.
Tocando em sua sanfona
Contou bem a sua saga
Mas hoje com o progresso
Só aumentou sua chaga
Uns chamam de aquela praga,
De lerdo ou de condenado.
Só porque o pobre jegue
No abandono coitado
Vive a margem das estradas
Abatido e humilhado
Com seu direito negado
Sem ter cangalha nem sela
Em abandono e sem dono
Enfrentando essa procela
Assim vive o nosso herói
Comendo lixo em favela
Sua esposa magricela
Cheia de falhas no pelo
O seu filho sem futuro
O pai nesse pesadelo
Sem ter endereço certo
Nem a quem fazer apelo
Sem cabresto e sem rabelo
O nosso herói vive triste
Sendo xingado e punido
No seu caminho persiste
A procura do seu dono
Mas o dono não existe
E assim o jumento insiste
Vivendo essa fase ruim
Sem ter direito a um dono
Trabalho, ração, capim.
Definhando em abandono
Esse seu amargo fim.
O que mudou no sertão, autor, Damião Metamorfose.
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Quem só conhece o nordeste
Em filmes de lampião
Se vier mesmo a passeio
Não vai ter decepção
Porque tudo hoje é moderno
Na cultura do sertão
Aquele velho jibão
Também o nosso jumento
O menino barrigudo
Com o olho remelento
Já não se ver por aqui
Caiu no esquecimento
O sertão vive um momento
De crescimento e fartura
Radio e televisão
Depois da tal ditadura
Valorizam nossa terra
E investem na cultura
O sertão de alma pura
Do matuto analfabeto
Da casa velha de taipa
Que de palhas era o teto
Hoje quase não se vê
Só existe o dialeto
Alvenaria e concreto
Vê-se em todo lugar
Muito já vou investido
Na cultura popular
E com isso até o povo
Mudou o seu linguajar
Muitos podem até pensar
Que aqui é atrasado
Que o futuro esta longe
O progresso mora ao lado
Mas eu lamento informar
Que o senhor ta enganado
Ta tudo informatizado
Moderno e mais colorido
Não tem vestido de chita
Alias nem tem vestido
É só jeans e mini-saia
Com tamanho reduzido
O sertão já foi sofrido
Mal visto e decadente
O preconceito imperava
Maltratando a nossa gente
Mas de noventa pra cá
Ficou mais independente
No sertão de antigamente
Nos anos sem enxurradas
Os sertanejos sofriam
Bem mais que almas penadas
Muitos deixavam à terrinha
E batiam em retiradas
Isso são águas passadas
Hoje é tudo diferente
O que não tem moto ou carro
Também não é emergente
Ou vive de festa em festa
Ou gastou com aguardente.
É por ai...
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