*
D.M
Quando
Deus abre as cortinas
que a
inspiração aparece.
A gente
escuta palavras
que o
mais sábio desconhece.
E esses
novelos de versos
a mente
desvenda e tece.
*
E,V
A justiça prevalece
Nem que seja com
atraso.
Quem faz aqui paga
aqui,
Nunca fica no descaso.
E recordando um
passado
Vamos narrar esse
caso.
*
Nada é
obra do acaso,
Nem
existe por engano.
Colhemos
o que plantamos
Seja
lucro, perda ou dano.
Posso
ser anjo ou demônio
Isso é a lei do soberano!
*.
Lá num recanto baiano
Perto de Jeremoabo,
Residia um lavrador
Que cultivava quiabo.
E este tinha um menino
Mas ruim de que o
diabo.
*
Seu pai
se dizia: brabo
Em casa,
fora, um fiasco.
Mas para
a esposa e filhos
Sempre
foi rude e carrasco.
Talvez
por isso o menino
Cresceu
sem medo de um casco!
*
Andava pelo penhasco
Atirando em
passarinho,
Tinha prazer de matar
Principalmente no
ninho.
E assustava as pessoas
Se escondendo no
caminho.
*
Do pai não
tinha carinho,
Cedo perdeu sua mãe casta.
Foi rejeitado
e humilhado
Nas mãos da
bruxa madrasta.
Por isso
nas travessuras
Tinha a imaginação
vasta!
*
E ninguém lhe dava um
basta
Naquela vida perversa.
Pra fazer a coisa
certa,
Só fazia a coisa
inversa.
A ninguém dava atenção
Com sua mente dispersa.
*
Não gostava
de conversa
E tinha poucos amigos.
Vivia se escondendo,
Buscando novos
abrigos.
Talvez de
tanto apanhar,
Perdeu o medo
dos castigos.
*
Desafiava os perigos
Lá da sua região.
Amansava burro brabo,
Prendia boi no mourão.
Tirava enxu sem fumaça,
Era forte igual
Sansão.
*
Sempre mostrou vocação
Na arte da montaria.
E na doma de animais
Desde cedo já sabia
Que era o que Ele gostava
E o que de melhor fazia!
*
Na redondeza existia
Um poldro manifestado
Que dava coice e
mordia,
Vivia sempre azogado.
A vizinhança dizia:
-Ninguém amansa o
danado!
*
Domadores de
outro Estado
Vieram para a Bahia.
Até quem cobrava caro
De graça se oferecia.
Mas quem
conseguiu montar
Em pouco tempo caia.
*
Muita gente aparecia
Pra ver montador na
lama.
Era montando e caindo
Como se fosse uma
trama.
A história do cavalo
Foi adquirindo fama.
*
Vou deixando a vaqueirama
Que teve um triste destino.
Pra falar um pouco mais
daquele jovem franzino.
Que estava se preparando
para montar no equino!
*
Que teve um triste destino.
Pra falar um pouco mais
daquele jovem franzino.
Que estava se preparando
para montar no equino!
*
Ele não "batia
pino"
Nem era de
"farrapar".
Fosse a parada que
fosse
Não era de enjeitar.
Bruto igual canto de
cerca,
Arisco feito um
jaguar.
*
Conhecido
no lugar
como visgo e carrapato.
Pois grudava no animal
e exagerava em maltrato.
Mas gostava que o chamassem
pelo seu nome de fato!
*
como visgo e carrapato.
Pois grudava no animal
e exagerava em maltrato.
Mas gostava que o chamassem
pelo seu nome de fato!
*
Seu nome era Zé do
Tato
Porque pegava tatu.
E tinha uma tatuagem
Na parte do mucumbu.
Além disso tinha
tática
E gostava de tutu.
*
Facheiro, mandacaru,
Macambira ou
juremal...
Num assustava Zé
do tato
Quando domava
um animal.
Por outro lado
o cavalo
Em questão,
era infernal!
*
Fosse no canavial,
Macambira, unha de gato
Com chuva, sol ou sereno;
Fosse na rua ou no mato
Não existiu quem tirasse
Afama de Zé do Tato.
Macambira, unha de gato
Com chuva, sol ou sereno;
Fosse na rua ou no mato
Não existiu quem tirasse
Afama de Zé do Tato.
*
Uns chamaram de
ingrato
Pela forma de
domar.
Pois Ele descia o
relho
E não parava de
esporar.
Se o animal não
cedesse
Batia até
aleijar!
*
Um dia foi amansar
Um tal cavalo cabano.
Pertencente a ele
mesmo,
Que trocou cm um
cigano.
Chicoteou o cavalo
Causando-lhe um grande
dano.
*
O ato foi tão insano,
Grosseiro e sem
piedade.
Que o boato se espalhou
Fora da comunidade.
Pra quem já tinha a
má fama
Provou dizerem
a verdade!
*
Vejam que barbaridade
Que neste instante alego,
Zé com chicote de couro
Fez o que eu não congrego.
Deu na cara do cavalo
Que deixou um olho cego.
Que neste instante alego,
Zé com chicote de couro
Fez o que eu não congrego.
Deu na cara do cavalo
Que deixou um olho cego.
*
Isto eu confirmo
e não nego,
Porque sei que Zé
do tato
Exagerava na
espora,
Cipó, chicote,
mau trato...
E a frase que
mais usava
Era: Ou amansa ou te
mato!
*
Assim como um
insensato
Ele açoitou o cavalo.
Vazando um olho do pobre,
O chicote dando estalo.
Pois pra domar animal
Ele cantava de galo.
Ele açoitou o cavalo.
Vazando um olho do pobre,
O chicote dando estalo.
Pois pra domar animal
Ele cantava de galo.
*
Para o Zé era um
regalo,
Bater em um
animal.
Quanto mais brabo
ele fosse,
Mais
manso deixava o tal.
Mas até então não
tinha
Sido
tão descomunal.
*
Numa noite de natal
Perto da linha do trem,
Num forró de gafieira
Zé conheceu um alguém.
Começou a namorar
Foi aquele xem - em - em.
Perto da linha do trem,
Num forró de gafieira
Zé conheceu um alguém.
Começou a namorar
Foi aquele xem - em - em.
*
Zé com o tempo
também
Deixou de ser
domador.
Passou a se
dedicar
Ao campo e ao
novo amor.
E o cavalo foi
vendido,
Pra um haras de
Salvador.
*
Pelo andar do andor
Esse namoro cresceu.
A paixão foi
aumentando
E o Zé só no jubileu.
Atendendo a namorada
Do cavalo se esqueceu.
*
O
amor dos dois cresceu
E o
casório foi marcado.
Gente
de Jeremoabo
E até
de fora do Estado
Foi
chamado, e no convite
Pedia
pra vir montado!
*
Veio até o
delegado
Montado num alazão.
Fizeram uma cavalgada
Cheia de animação.
E Zé do Tato feliz,
Com tanta badalação.
Montado num alazão.
Fizeram uma cavalgada
Cheia de animação.
E Zé do Tato feliz,
Com tanta badalação.
*
Deixando a
celebração
Eu volto um pouco
ao passado.
Para falar do
cabano
Que teve o olho
vazado.
E foi vendido pra
um haras...
Mas voltou pro
povoado!
*
O alazão foi comprado
Por um tal João da Carqueja,
Que com o velho Odraúde
Vieram tomar cerveja,
Pedro Pereira Pintado
Tava pintando a Igreja.
Por um tal João da Carqueja,
Que com o velho Odraúde
Vieram tomar cerveja,
Pedro Pereira Pintado
Tava pintando a Igreja.
*
Enquanto o tempo
rasteja
Mais lento que
uma criança
O Zé do tato
ganhou
Um bom dinheiro
de herança.
Com ele comprou
cabano
Pra ir montado à
festança!
*
Ligeiro feito uma
lança
Pinotou no animal.
Partiu para o casamento,
Chegando no arraial
Foi amarrar o cavalo
Numa estaca do curral.
Pinotou no animal.
Partiu para o casamento,
Chegando no arraial
Foi amarrar o cavalo
Numa estaca do curral.
*
Afrouxou o
peitoral
E as duas cias da
sela.
Passou por traz
do cavalo
Sem ter medo e
nem cautela.
Pensou um pouco
na vida
E adentrou na
capela!
*
E a noiva toda bela
Por Zé do tato
esperando.
E cavalo amarrado
Lá de fora observando.
Com um olhar
compenetrado
E os olhos
lacrimejando.
*
Os
convidados chegando
Pra ver o Zé se
casar
Uns de pé outros
sentados,
E as piadinhas no
ar.
-Esse é o domador
que deixa
Uma mulher lhe
domar?
*
E o povo a gracejar
Andando fazendo círculo;
E o cavalo calado
Achando aquilo ridículo,
Deu um coice em Zé do Tato
Que arrancou um testículo.
Andando fazendo círculo;
E o cavalo calado
Achando aquilo ridículo,
Deu um coice em Zé do Tato
Que arrancou um testículo.
*
Caiu, bateu num
veiculo
Que
estava estacionado
Com o impacto
frontal
Teve um olho
vazado.
Agora além de
caolho
Zé também ficou
capado!
*
- Eu
agora estou vingado!
Era o cavalo pensando...
Como quem tava sorrindo
Ficou para Zé olhando.
Aí soltou um relincho
Como quem tava mangando.
Era o cavalo pensando...
Como quem tava sorrindo
Ficou para Zé olhando.
Aí soltou um relincho
Como quem tava mangando.
*
Não vou dizer onde
e quando
Essa
história aconteceu.
Os nomes dos
personagens
O autor também
protegeu.
E a vingança não
compensa
Para
ninguém, creio eu!
*
Hoje em dia já morreu
O cavalo; e Zé do Tato.
A noiva morreu também,
Ficou somente o boato.
Ficou as almas penadas
Vagando naquele mato.
O cavalo; e Zé do Tato.
A noiva morreu também,
Ficou somente o boato.
Ficou as almas penadas
Vagando naquele mato.
*
Fim.