sexta-feira, 1 de abril de 2011

Quem sou eu? * Autor: Damião Metamorfose.


*

Baseado em uma crônica de: Luiz Fernando Veríssimo

*

Nesta altura da vida,

Eu já não sei mais quem sou.
Se já era complicado,

Agora é que complicou.

Depois que um analista

Calmamente me explicou...

*

Vejam o que ele falou

De forma bem convincente.

Ele disse: que na loja

Onde eu compro, sou cliente.

No restaurante um freguês,

Nos correio, remetente.

*

No hospital, sou paciente,

Se ouvir rádio, eu sou ouvinte.

Na receita federal

Eu sou um contribuinte.

Viajando eu sou turista,

Mendigando, eu sou pedinte.

*

Se eu for homem de requinte,

Vão me chamar de grã-fino.

Morando em casa alugada,

Não passo de um inquilino.

Se não cumpro sou moleque,

Fazendo o mal, sou malino.

*

Com dez anos, sou menino,

Com cinquenta, sou senhor.

Para o dono do mercado,

Eu sou um consumidor.

Se eu não pagar os impostos,

Eu sou um sonegador.

*

Se eu votar, sou eleitor,

Se eu revendo, muambeiro.

Em um comício, eu sou massa,

Na condução, passageiro.

Se não pago, inadimplente,

Que é o mesmo caloteiro.

*

Se eu nunca tiver dinheiro,

Me chamam de pé rapado.

Na rua eu sou pedestre,

Mas se eu for atropelado,

A imprensa chama: a vitima,

O povão, o acidentado.

*

Se eu vendo algo importado,

Contrabandista, que horror.

Se eu compro ou leio um livro,

Sou chamado de leitor.

Espectador para o ibope,

TV, telespectador.

*

Já encerrando, o doutor

Disse, em tom bem compassado.

Ao morrer, tu és defunto,

Presunto, extinto ou finado.

Caso você seja espírita,

É só um desencarnado!
*

Pesei que tinha encerrado,

Mas ele ainda acresceu.

Para os políticos você

É um imbecil, entendeu?

Ai disse o que eu devia

E eu não sei mais quem sou eu...

*

Fim