quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Pra não morrer de saudade* Autor: Damião Metamorfose.

*
Pra não morrer de saudade,
Vou voltar pra minha gente.
Tomar banho na nascente,
Desnudo da vaidade.
Já me cansei da cidade,
Com fuligem de motor.
Quero ser o condutor,
Da vida que eu almejo.
Regressar é o meu desejo,
Cansei de ser sofredor.
*
Quero rever meu amor,
Pra não morrer de saudade.
Ô minha cara metade,
Aceite esse sonhador.
Já não sou tão sedutor,
Mas tenho amor pra te dar.
Vamos juntos partilhar,
O tempo que ainda temos.
Só tentando é que sabemos,
Como é gostoso sonhar.
*
Quero dormir e acordar,
Sem ter mais ansiedade.
Pra não morrer de saudade,
Voltei pra recomeçar.
O preço que vou pagar,
Não me preocupa mais.
Quero amizades leais,
Sem visão capitalista.
Adeus ao mundo egoísta,
De humanos quase animais.
*
Quero rever os meus pais,
Meus amigos de infância.
Acabar com essa ânsia
E os anseios banais.
Vou ver os meus ancestrais,
Pra não morrer de saudade.
Chamar “compadi e cumade”
Que se dane o português.
Vou falar nordestinês,
Até matar a vontade.
*
Cansei de ver crueldade,
Gente matando e morrendo.
Por isso é que vou correndo,
Pra não morrer de saudade.
Aqui só vejo maldade
E fila em todo lugar.
A passagem eu vou comprar,
Se der certo eu vou voando.
Adeus, bye-bye, inté quando,
Quando eu nunca mais voltar.
*
Quero as noites de luar,
Dias de sol e nublado.
Pisar no chão sem calçado
E sem me contaminar.
Lá eu vou me libertar,
Morar em casa sem grade.
Pra não morrer de saudade,
Eu vou voltar é agora.
Está passando da hora,
Essa saudade me invade.
*
Vou dar continuidade,
As coisas que eu deixei.
Envelheci, mas ganhei
Muito mais serenidade.
Pra não morrer de saudade,
Vou voltar pra minha terra.
Morar lá no pé da serra,
Onde o vento faz a curva.
Onde a visão não é turva
E em poucos metros se encerra.
*
Quero é distancia da guerra
Civil e organizada.
Da vida falsificada,
Que valoriza quem erra.
Cansei desse emperra emperra
E desse manda e desmanda.
Barulho de propaganda,
Promovendo a falsidade.
Pra não morrer de saudade,
Eu vou é dançar ciranda.
*
Aqui quando a vida anda,
Tem um pra te vigiar.
Pronto para te roubar,
Aí seu trono desanda.
Se o criminoso é quem manda,
Manda a criminalidade.
Detesto barbaridade,
Gente cruel e malvada.
Prefiro puxar enxada,
Pra não morrer de saudade.