domingo, 29 de novembro de 2009

O preço de um cidadão> Autor: Damião Metamorfose. *



O preço de um cidadão> Autor: Damião Metamorfose.
*
01=I
Hoje eu vou contar um causo,
Mas prestem bem atenção.
Não quero denegrir seitas
Igreja ou religião...
O meu intuito é mostrar,
O quanto pode custar,
O preço de um cidadão.
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02=II
O meu assunto em questão,
Faz tempo que aconteceu.
E foi na antiga Europa,
Que esse fato ocorreu.
Um homem de muita soma,
Decidiu visitar Roma,
A terra do Coliseu.
*
03=III
Eu não sei o nome seu,
Nem a data nem o ano.
Mas o local eu garanto,
Sem ter duvidas ou engano.
Nem preciso olhar no mapa,
Foi na cidade do papa,
A terra do Vaticano.
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04=IV
Presidente soberano,
De uma multinacional.
Dessas que vendem produtos,
Em escala mundial.
-E esse mestre da cobiça,
Resolveu ir a uma missa,
Em dia dominical.
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05=V
Ao chegar à catedral
E ver a praça lotada.
Pensou logo em promover,
Sua marca registrada.
Sendo um marketeiro esperto,
Resolvei chegar mais perto
Do papa e dar uma cartada.
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06=VI
Depois da hóstia elevada,
Chamou um babão papal.
Subornou bem sorrateiro,
De forma bem cordial.
E o mesmo disse: eu garanto
Que te levo ao homem santo,
Mas aguarde o meu sinal.
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07=VII
A missa chega ao final
E o beato acenou.
Para um lugar reservado,
O empresário a levou.
Meditabundo e sentado,
O papa estava calado,
Quando o empresário entrou.
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08=VIII
Sem rodeios perguntou,
O que o senhor deseja?
Seja breve, por favor,
Diga logo o que almeja.
Pois quero me concentrar,
Que já - já vou celebrar,
Outra missa na igreja.
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09=IX
O homem disse: assim seja,
Eu estive observando...
Que o senhor tem domínio,
Aos que estão te escutando.
Seja em gestos ou prece,
Ordena e o povo obedece,
Estão sob o seu comando.
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10=X
E tem uma hora quando,
O senhor levanta a mão.
Dizendo: esse é o meu sangue...
E em todos que ali estão.
Manifesta uma hipnose,
Tipo uma metamorfose,
Dominando a multidão.
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11=XI
O popa disse: pois não,
Onde o senhor quer chegar?
Da forma que se expressou,
Falando em hipnotizar.
Parece ser de outra crença,
Seja breve e me convença
Ou pode se arretirar.
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12=XII
Pode o senhor me falar,
Qual é a sua proposta?
Que depois eu lhe direi,
Se te dou alguma resposta.
Mas vamos pra sala ao lado,
Que é muito mais reservado
Portanto: menos exposta.
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13=XIII
Já vi que o senhor não gosta,
De perder tempo atoa.
Homem fino e de negócios,
Educação muito boa.
De boa índole também,
Pra prosa não ir além...
Parece uma ótima pessoa.
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14=XIV
Nessa hora o sino ecoa,
Num badalar compassado.
Era um aviso que o tempo,
Estava quase esgotado.
Restava só meia hora,
E o papa disse: e agora
Fale o que quer meu prezado?
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15=XV
Em tom claro e explicado,
E em total privacidade.
Frente a frente com o chefe,
De parte da humanidade.
O homem disse: o que eu quero,
Além de ajudar o clero,
É propor uma sociedade.
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16=XVI
Eu sou uma santidade
Sou sustentáculo da fé.
Que sociedade é essa!
E porque a minha sé?
Meu tempo está se esgotando
E o povo está esperando,
Diga-me logo o que é...
*
17=XVII
Os dois ficaram de pé,
O babão trouxe uma estola.
O papa disse: adiante-se,
Seja breve, não me enrola.
-E o homem falou baixinho,
Quero que em vez de vinho,
Sirva aos fieis, coca-cola.
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18=XVIII
Desconfiei da esmola,
Não eu não posso aceitar.
Esse ritual cristão,
É tradição milenar.
Se não é só parolagem,
Diga-me qual a vantagem,
Para o ritual mudar?
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19=XIX
Um por cento eu vou te dar,
De toda a renda mundial.
Para o senhor levantar,
O cálice celestial.
E dizer para o seu povo,
Bebam do meu sangue novo...
Ou algo mais genial.
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20=XX
Sabes que o álcool é um mal
E está contido no vinho.
E além desse “um por cento”
Prometo não ser mesquinho.
Onde houver celebração,
Vai ter coca pro povão,
Pense só mais um pouquinho...
*
21=XXI
Não posso pensar sozinho,
Assim eu serei omisso.
Peço ao senhor, por favor,
Por favor, Pare com isso!
Pra te falar a verdade,
Essa tal sociedade,
Atrasou meu compromisso
*
22=XXII
Por favor, chame o noviço,
Bispo, padre e sacristão...
Chame logo todo o clero,
Pra uma reunião.
E avise lá no altar,
Que também vai atrasar,
A próxima santa missão.
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23=XXIII
Em pouco tempo o babão,
Trouxe todo o episcopado.
E a seção começou,
Ali no salão fechado.
E o ilustre empresário,
Sem ouvir nem comentário,
Ficou na sala ao lado.
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24=XXIV
O tempo quase parado,
E ele ali na espera.
É nessas horas que o tempo,
Parece uma quimera.
E ele pensando calado,
Se nada for aprovado,
O meu emprego, já era.
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25=XXV
O papa feito uma fera,
Lá no salão calculava.
Um por cento vezes quanto?
Vezes quanto? E não achava.
Quanto é quanto seria?
Mas ninguém ali sabia,
Quanto à coca faturava.
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26=XXVI
A todos questionava
E todos sem exceção.
Diziam: o senhor não sabe?
Sinto muito, eu também não.
Mas eu acho santidade,
Que essa sociedade,
Vale bem mais de um milhão.
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27=XXVII
Chame logo o cidadão,
Que ele tem a resposta.
E eu também quero fazer,
A minha contra proposta.
Se ele causou meu tormento,
Vou pedir é dez por cento,
Pra ver se perto ele encosta.
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28=XXVIII
Fizeram até aposta,
O papa não, só o clero.
Uns diziam: cinco e seis,
Sete oito ou nove eu quero.
Todos já estavam tensos,
Eretos pensando pensos,
Lapidados, sem esmero.
*
29=XXIX
O papa disse: eu espero,
Que o senhor seja claro.
Sei que é homem de negócios,
Viajado e bom de faro.
Com a nossa reunião,
Chegamos à conclusão
E é dez por cento eu declaro.
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30=XXX
Assim não! Vai ficar caro,
Dois e o abastecimento.
Tá pouco nove e fechado,
Tá muito, eu dou três por cento.
Oito sete, seis e cinco,
Quatro é só isso eu não brinco
Comece o fornecimento.
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31=XXXI
Para selar o momento,
Brinde com coca ele fez.
Até que um deles pergunta,
É por dia ou é por mês?
E o papa disse: oh! Seu quiba,
Nem acabamos a briga,
Quer começar outra vez?
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32=XXXII
E assim mostrei pra vocês,
De forma bem humorada.
Nesse cordel em septilha,
Com deixa e metrificada.
Que seja fim ou começo,
Todo homem tem um preço,
Basta uma boa cantada.
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33=XXXIII
Pode parecer piada,
De mau gosto e com maldade.
Até porque nenhum papa,
Fazia essa sociedade.
Mas vendo por outro lado,
O teor do meu recado,
Tem um fundo de verdade.
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34=XXXIV
Que nenhuma santidade,
De seita ou religião.
Condene o meu cordelzinho,
Que fiz só por diversão.
E antes de alguém julgar,
Esse humilde potiguar,
Já vai pedindo perdão.
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35=XXXV
D*eus me deu a inspiração,
A*pontou todo o caminho.
M*ostrou-me cada detalhe,
I*mportante e em desalinho.
A*gora vamos fazer,
O* brinde com coca ou vinho?
*
Fim
*
29/11/2009