*
Existe um velho ditado,
Que o baiano é preguiçoso.
Seja verdade ou mentira,
Ou simplesmente maldoso.
Conheço um pernambucano,
Que me contou que o baiano,
É por demais corajoso.
*
O nome dele é Pedroso,
Contou-me não faz um dia.
Que mês passado ele foi,
Visitar a sua tia.
Que mora numa ruela,
Pertinho de uma capela,
Em Salvador na Bahia.
*
Férias! Tudo que eu queria,
Mas quem tirou foi Pedroso.
Foi, conheceu e gostou,
Disse: que o clima é gostoso.
E confirmou que o baiano,
É um ótimo ser humano,
Amável e muito engenhoso.
*
Além de ser corajoso,
Viver bem e sossegado.
Metade do ano dança,
A outra fica deitado.
Pra tudo ele tem saída
E o seu estilo de vida,
Devia ser copiado.
*
Ele falou-me empolgado,
Do seu primo Caetano.
Que quando não tá dormindo,
Está debaixo do pano.
É bem casado com Hortência,
Mas na sua adjacência,
Faz uns dez filhos por ano.
*
Ganha a vida soberano,
Sempre deitado na rede.
Dorme acorda, acorda e dorme,
Ali mata a fome e sede.
Pra não gastar energia,
Quando o balanço alivia,
Nem bate o pé na parede.
*
E eu perguntei, nem da rede,
Esse cabra se levanta.
E pelo o que você disse,
Vem pra rede, almoço e janta.
Ou você é mentiroso
Ou ele é um preguiçoso,
Me explique, em nome da santa?
*
É amigo não se espanta,
Na Bahia, isso é tática.
Enquanto a mente descansa,
Ele poe planos em pratica.
Caetano é genial,
Não faz serviço braçal,
Usa só a matemática.
*
Com tanta gente simpática,
Sol de janeiro a janeiro.
Turistas cheios das notas,
Carnaval o ano inteiro.
Pra ser bem renumerado,
Pra que trabalho pesado,
Se ganha mais com o maneiro?
*
Baiano é hospitaleiro,
Trata a todos como irmão.
Por ser muito criativo,
Usa a imaginação.
Sem roubo ou maracutaia,
Vende terrenos na praia,
Sem possuir nenhum chão.
*
Foi casa, vira pensão,
Cada palmo é alugado.
Engarrafa água do mar,
Diz que é de um templo salgado.
Com tanta facilidade
E toda essa habilidade,
Pra que trabalho pesado?
*
Ainda é indenizado,
Com auxilio maternidade.
Cada filho é uns dois mil.
Que ele é dono da metade.
Fazendo a grana girar,
Arma a rede e vai deitar,
E dorme bem sossegado.
*
Para quem é despojado,
Mocassim é pé no chão.
Fez sombra é uma casa,
Roupa fina é um calção.
De gala é um abadá,
E se for pra vadiá,
Fica mesmo é peladão.
*
A rede é cama e colchão,
O clube é a avenida.
A roça são os ensaios,
Dos oloduns dessa vida.
Tendo ensaio, tem turista,
É só dar uma de artista,
Que a grana é garantida.
*
A mãe, dona Margarida,
Essa é que é corajosa.
Quando não está dormindo,
Tá no terreiro de Rosa.
E quando chega cansada,
Pra dar uma relaxada,
Deita-se na preguiçosa.
*
Oh! Terra maravilhosa,
Cheia de paz e alegria.
O tempo que fiquei lá,
Troquei a noite no dia.
Foi cem por cento lazer
E se não tinha o que fazer,
Armava a rede e dormia.
*
A minha prima Sofia,
Tá igual ao Caetano.
Quando não dança ela dorme
e acorda fazendo plano.
Oh! Neguinha inteligente,
Aprendeu a fazer gente,
E pari um filho por ano.
*
O meu tio Floriano,
Já cansou de descansar.
Armou a rede na área,
Dormiu até se cansar.
Quando a rede se rasgou,
Caiu no chão e ficou,
Sem pressa para acordar.
*
Precisou se aposentar,
Porque já está cansado.
Procurou um sindicato,
Bem pertinho, ali do lado.
Achou o dono dormindo,
Um minuto e voltou rindo,
E já vinha aposentado.
*
Não sei se em todo estado,
Pois só fui a Salvador.
Lá da menina a senhora,
Do menino ao senhor.
Não vi ninguém vadiando,
Ou é dormindo ou dançando,
Oh! Povo trabalhador.
*
Mesmo com tanto calor,
É aquele corre-corre.
Passa trio, entra trio,
Vem outro trio e socorre.
Quando acaba o carnaval,
A micareta é geral,
Não sei como ninguém morre.
*
Quando alguém fica de porre,
Cambaleando num canto.
Bebe a metade da dose,
Outra metade é pro santo.
Pois além de corajosos,
Todos são religiosos,
Bahia tem esse encanto.
*
Meu amigo eu brinquei tanto,
Que ainda estou cansado.
É preciso ter coragem,
Pra dar conta do recado.
Lá quando eu não dormia,
Bateu na lata eu corria,
Já estava abaianado.
*
Não existe feriado,
Todo dia tem trabalho.
Quando um está cansado,
Outro ajuda, quebra um galho.
Mas ninguém vive estressado,
Porque trabalha deitado,
Carteando um bom baralho.
*
Pra tudo eles têm atalho,
No tempo e na hora certa.
Pra tirar água de coco,
Na hora que a sede aperta.
Eles usam um canudão,
Que fura o coco do chão,
Veja que ideia esperta!
*
Ou fica de boca aberta,
E bebe até se fartar.
E quando o coco é gigante,
Antes de a água acabar.
Aquele que é mais tacanho,
Aproveita e toma um banho
E depois vai descansar.
*
Esse dito popular,
Que o baiano é preguiçoso.
É coisa de fofoqueiros,
Desocupado e invejoso.
Tudo o que disse é verdade,
Ali naquela cidade,
Vi um povo corajoso.
*
Acreditando em Pedroso,
E em tudo que ele contava.
Eu escutava calado
e de nada duvidava.
Teve horas que até,
Me vi na praça da sé,
No sonho eu ia e voltava.
*
Quanto mais ele falava,
Mas eu calado assistia.
Imaginei Caetano,
O seu tio, a sua tia.
E até fiquei encantado,
Com o corpo bronzeado,
Da sua prima Sofia.
*
Meu Deus! Como eu gostaria,
De conhecer Salvador.
Conviver com essa gente,
Que tem cultura e valor.
E como disse o Pedroso,
Povo astuto e corajoso,
Honesto e trabalhador.
*
Ir à igreja do senhor
do Bonfim, como eu queria.
Ver as baianas lavando,
Toda a sua escadaria.
Dançar ao som do Olodum,
Mas como estou sem nenhum,
Nem de férias, eu podia.
*
Enquanto eu fui á Bahia,
Sem sair do meu lugar.
Voltei cheio de perguntas,
Mas quando fui perguntar.
O Pedroso respondeu...
Sinto muito, mas me deu,
Vontade de me deitar.
*
Mas se tu ouvir falar,
Esse ditado maldoso.
Que o povo da Bahia,
Não trabalha, é preguiçoso.
Desminta esse vagabundo,
Lá é melhor lugar do mundo
E quem garante é Pedroso.
*
Deitou-se todo dengoso,
Acordou no outro dia.
Mas antes ele contou,
Isso que eu tanto queria.
A verdade sobre o povo,
Ordeiro lá da Bahia.
*
Fim
14/10/2009