terça-feira, 1 de novembro de 2011

Não tem multa que dê jeito * Autor: Damião Metamorfose.




Foto extraída do Google

*

Seu Natalino nasceu

No tempo dos coronéis...

Quando o pai leva um filho

Com Ele para os bordéis.

E a boa cachaça vinha

Nos velhos e bons tonéis!

*

Naquele tempo os quartéis

Dos pequenos povoados.

Tinha um sargento caduco,

Um cabo, um ou dois soldados.

Que por não fazerem nada

Pareciam uns cevados!

*

E todos eram indicados

Pelo chefão do lugar.

Treinados para dormir,

Comer muito e engordar.

Não prendiam nem arroto

Sem o prefeito mandar!

*

E era comum encontrar,

Um açougue, uma capela,

Uma pracinha pequena,

Toda na cor amarela.

E uma rua bem comprida,

Mas também só tinha ela!

*

E até a pensão daquela

Cidade, era no bordel.

Que também era o clube

De dança, bar e hotel...

Tudo de um mesmo dono

Que dominava o cartel!

*

Também tinha o quartel

Pra por ordem no lugar.

Ficava no fim da rua,

Bem longe do bordel-bar...

Onde o velho Natalino

Costumava frequentar!

*

Falei tanto do lugar,

Quase esqueço o Natalino.

Que nasceu ali bem perto

E viveu desde menino

Sem precisar de prefeito,

Pra mandar no seu destino!

*

A fazenda ouro fino,

Que Ele herdou dos seus pais.

Tinha açudes e barragens,

Roças e canaviais.

Gado de leite e de corte,

Pasto verde e milharais...

*

Moradores, serviçais,

Bom engenho e casa boa.

Dava do bom ao melhor,

Pra família e a patroa.

E nem mesmo com o prefeito,

Ele gostava de loa!

*

E como qualquer pessoa,

Seja do campo ou cidade.

Que constrói o seu império

Com ou sem dificuldade.

Quando não é egocêntrico,

Tem particularidade...

*

Natalino na verdade,

Tinha uma obsessão.

Que pra muitos era até

Falta de educação.

Mas pra Ele era normal,

Urinar sempre no oitão!

*

O contato com o chão,

Pra quem sempre foi pacato.

Que lidou com bicho e gente

Sem requinte ou fino trato.

Fez com que o fazendeiro

Gostasse de ir “ao mato”

*

Seu Natalino de fato

Era um homem respeitado.

Seja entre os fazendeiros

Vizinhos do povoado.

Da cidade a capital,

Dentro e fora do Estado!

*

Mas como era acostumado

A não usar o banheiro.

Quando ia pra cidade

Tinha que voltar ligeiro.

Pois devido o velho habito,

Chamavam o de baderneiro...

*

Certo dia o fazendeiro,

Tomou umas no bordel.

Bebeu tanto que esqueceu

Daquele habito cruel.

E quando veio a vontade

Não deu pra ir ao vergel!

*

Parou perto do quartel,

Porque já não agüentava.

Foi pro oitão de uma casa

E enquanto se aliviava.

Nem viu que o delegado

Lá do quartel lhe espreitava!

*

Voltou para onde estava

Com os “amigos” no barzinho.

Respirando aliviado,

Foi beber mais um pouquinho.

-E o delegado as pressas

Foi intimar o vizinho!

*

Com medo de um desalinho,

Perguntou com muito jeito.

Se Ele tinha visto o que

Por Natalino foi feito...

E o homem disse: eu não,

Eu nem enxergo direito!

*

O delega insatisfeito,

Correu para a prefeitura.

A pé mesmo, até porque,

Lá não tinha viatura.

E contou para o prefeito

Com requintes de agrura!

*

E o defensor da censura,

Que no caso era o prefeito.

Ao ouvir todo o fuxico,

Ficou muito insatisfeito.

E disse: Ele é homem honrado,

Mas temos que dar um jeito!

*
É contra as leis, não aceito,
Vou ser desmoralizado.
Mandar prender, eu não posso,
Pois perco o eleitorado.
Pra evitar piores danos,
Vamos ter que ter cuidado!
*
E chamou o delegado,
Para um particular.
Ordenando ao mesmo que:
Não deixasse se espalhar.
Baixasse uma portaria,
Com multa pra Ele pagar.
*
Vamos ter que exemplar,
Senão o seu Natalino.
Vai nos desmoralizar
E nos chamar de mofino.
Esse é o único jeito,
Pra barrar esse malino!
*
Assim traçaram o destino,
Do fazendeiro mijão.
Com multa de cem reais,
Será feita a punição.
Se acaso ele se alterar
Pode dá voz de prisão.
*
E o delegado babão,
Voltou pra delegacia.
Datilografou um texto,
Prescreveu como devia.
Depois foi com os soldados
Pra onde o homem bebia.
*

Ao chegar disse: bom dia!
Natalino o respondeu.

E perguntou em seguida,
Diga o que aconteceu?
E o delegado medroso

Tentou contar, mas tremeu!
*
Natalino estremeceu,
Deu um murro no balcão.
E perguntou em voz alta,
Diga o que eu fiz cidadão?
E o delegado contou,
O que Ele fez no oitão...
*
Posso dar voz de prisão,
Se o senhor se recusar.
A pagar a multa que:
Eu vou ter que aplicar.
A escolha é do senhor,
Não posso me demorar!
*
E quanto é que eu vou pagar?
Falou com gestos boçais.
-Por o que fezno oitão,
A multa é só cem reais.
Mas se houver reincidência,
Vai ser cobrado bem mais!
*
Então me passe essas tais,
Multas que tu tens na mão.
Cinco, dez, quantas tiver...
Ou faça outro talão.
Que hoje eu vou verter água
Em tudo que for oitão.

*
Pagou sem ter discussão,

Pra não permitir gracejo.

E continuou fazendo

Legalmente o seu desejo.

De se aliviar nos becos

E nos oitões do vilarejo.

*

E assim um Sertanejo
Achincalhou o prefeito.

Tirou onda com a policia,

Pra se manter satisfeito
e mostrar que com quem pode...
Não tem multa que dê jeito!
*
Fim.