terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Musica pra vender bananas * Autor: Damião Metamorfose.


*
Sou do tempo que a musica
Era cultura e raiz.
Os bailes eram em latadas,
Tocador era aprendiz.
Bom forró é o que se ouvia,
Mulher se chamasse ia,
Pra repetir era um bis.
*
Tive uma infância feliz...
Depois eu te conto o resto.
Nesse cordel eu pretendo,
Registrar o meu protesto.
Sobre o forró atual,
Que é só lixo musical,
De mau gosto e indigesto.
*
Sou nordestino e detesto,
O forró com putaria.
Que faz questão de lançar
Uma banda nada por dia.
Com nome e bordão sem nexo,
Letras falando de sexo,
Sem rima e sem poesia.
*
Divulgam pornografia,
Material copiado,
Cada festa é um cd
Ao vivo e mal acabado.
Pra piorar a demanda,
Recheiam com propaganda,
Pra livrar algum trocado.
*
O palco é sempre enfeitado,
Com nome de prefeitura.
O corpo de bailarinos,
É libidinagem pura.
A festa é sempre de graça,
É pão e circo na praça,
Álcool e drogas, a mistura.
*
Sempre fui contra a censura
E a favor do bom gosto.
Mas ouvir musica babaca,
Não é gosto, é desgosto.
E se for em paredão
Não tem saco nem culhão
Que auguente, é um encosto!
*
Musica pra mim é o composto
De letra com poesia.
Mensagem boa e direta,
Bons arranjos, melodia.
Mas isso que o povo escuta,
Que chama a mulher de puta...
Não é musica, é baixaria.
*
Se não tiver putaria,
Não faz sucesso na praça.
Os CDs são tão ruins,
Que nem vendem, é de graça.
É o gosto da maioria,
Mas pra mim é porcaria,
Não ouço nem com cachaça.
*
E quando o sucesso passa,
Pra não morrerem de fome.
Eles mudam os integrantes,
O produtor e o nome...
Sempre um nome parecido,
Usando um duplo sentido,
Pra ver se o povo consome.
*
Não conheço quem me dome
E me convença a escutar.
O que eles chamam de musica
E o rádio insiste em tocar.
Não ouço, não tem quem faça,
Nem em casa e nem na praça,
Detesto musica vulgar!
*
Se alguém me presentear,
Com um cd de qualidade.
Eu escuto, guardo escuto...
Mas se for ruim é maldade.
Eu devolvo o tal presente,
Digo que não sou demente,
Se tiver necessidade.
*
Quem preserva uma amizade,
Não dá um presente assim.
Quem gosta de boa musica,
Não escuta a que é ruim.
E essas bandas de hoje em dia,
Só promovem putaria,
Com conteúdo chinfrim.
*
Meu protesto chega ao fim,
Mas nas próximas semanas.
Vão surgir umas dez bandas
E outras dez letras sacanas.
Musica em estilo vulgar,
Deveria se chamar,
Musica pra vender bananas.
*
Fim.

A despedida do trema * Autor: Damião Metamorfose.


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Esse mini cordel foi baseado no texto publicado na revista Offline nº16
Autor do texto original: Lucas Nascimento.
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http://oblogk.wordpress.com
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Adeus! Estou indo embora,
Pois inventaram um motim.
E me expulsaram do “U”
E sem ele é o meu fim.
Com a reforma ortográfica,
Não tem mais lugar pra mim.
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A noticia foi tão ruim,
Deixou-me entristecido.
Logo eu que sempre fui
O acento mais esquecido.
Agora é definitivo,
De uma vez fui excluído.
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Sempre fiquei escondido,
Na lingüística portuguesa.
Tiraram-me da lingüiça,
Do cinqüenta e com certeza.
Sai do dicionário,
É grande a minha tristeza.
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Fui fazer minha defesa,
Com os pontos do alfabeto.
Mas nenhum me deu apoio,
Acharam que está correto.
Até o “U” disse: não!
Logo ele, o meu dileto.
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Disse: que sem eu no teto,
Vai ficar aliviado.
Com os dois pontos também,
Fui mal recepcionado.
Chamaram-me de preguiça,
Porque eu ficava deitado.
*
Cedilha foi mal criado
E a favor da expulsão.
Logo ele que se passa
Por um “S” disse: não.
E nunca inicia a frase,
Isso é muita ingratidão!
*
O “O” esse gorduchão
E o anoréxico do “I”.
Também me viraram as costas,
Foi ai que entendi.
Que nem o ponto final,
Queria-me por aqui.
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Nessa hora eu resolvi
Arquitetar outro plano.
E inventei um topete,
No estilo moicano.
Pra me parecer com aspas,
Mas entrei foi pelo cano!
*
Esse irreparável dano
Eu acho uma delinqüência.
Mas a moda agora é:
A falta de inteligência.
E vocês me expulsaram
Sem pensar na conseqüência.
*
Também acho uma demência,
A substituição.
Que tem nesse tal twitter,
Que falta de inspiração.
Se o tüiter fosse assim,
Tinha mais aceitação.
*
Com razão ou sem razão,
Vou ter que me retirar.
Vou morar na Alemanha,
Lá ninguém vai me expulsar.
E além de ser adorado,
Vou poder filosofar.
*
Pra História eu vou entrar,
Vamos nos ver nos artigos.
Manuscritos, pergaminhos,
Revistas, livros antigos.
E é dessa vez que eu mato
De inveja os meus ex: amigos.
*
Alertei para os perigos,
Barganhei, tentei esquema...
Ninguém me deu atenção
E já que sou um problema.
Fui obrigado a fazer,
A despedida do trema!
*
Fim.