quarta-feira, 27 de junho de 2012

O Sertão sem inverno * Autor Damião Metamorfose.


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Foto extraída do Google.
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Para os que são da terrinha
E àqueles que não são.
Eu faço mais um Cordel
Real e com emoção...
Convido o caro leitor
Pra lê e ver o terror
Que é a seca no Sertão...
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Acordar sem ver a chão
Molhado e a água empoçada.
O mato todo morrendo
Por não ter terra molhada.
E o pasto a bem nem nasceu
Com o calor do sol morreu
Junto com ele, a boiada!
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A terra ainda ondulada
Das marcas de um arado.
De um trator que passou
Arando o ano passado.
E os animais que restaram
Comem os restos que sobraram
Do capim espezinhado!
*
Falta leite, morre o gado,
Não tem poço e nem girino.
Seca a barragem e o açude
Com o vento e o sol a pino.
Sofre os animais e a gente,
Jovem, adulto, inocente,
Com esse triste destino!
*
Todo o solo nordestino
Dessa vez foi afetado.
Pela malvada da seca
Não sobrou nenhum Estado.
Do jeito que vai, não brinco,
Vai murchar folha de zinco
E o solo ficar rachado!
*
Sertão seco ou ressecado,
Pra muitos é o recomeço.
Tem gente que vende a casa
E muda de endereço.
Já os mais exploradores
Aproveitam-se das dores
E aumenta tudo o que é preço!
*
Feijão morrendo é o começo,
Milho secando o pendão.
Arroz já nem plantam mais
Porque vem do Maranhão.
Mas dessa vez não vem nada
A seca foi declarada
Em todo o nosso Sertão...
*
Grilo canta o seu bordão
Escondido atrás de uma porta.
Na caatinga a cigarra
Cantava, mas está morta.
E o camponês tanto olhou
Para as nuvens que ficou
Com a sua coluna torta!
*
Na seca ninguém suporta,
A tristeza é geral.
Sofre-se de fome e sede
E o desemprego é brutal.
O homem ainda resiste,
Já com os animais é triste,
Morrem urrando no curral!
*
O sol ardente infernal
Castigando gente e gado...
Dá quarenta graus na sobra,
Cinquenta ou mais no serrado.
O que não se movimenta
Ma hora que o sol esquenta
Morre tudo esturricado!
*
O oportunista avisado
Quando é seca no Sertão.
Compra tudo que é vazante
Planta o sorgo pra ração.
Quando é na hora do corte
Vende pela hora da morte
Sem dó da situação!
*
Sem chuva e sem condição
De encher açude e barragem...
Tem lugar que está tão seco
Que nem cresceu a pastagem.
Sem chuva o suficiente,
Sofre a mata, o bicho, a gente...
E a morte pede passagem!
*
Nordeste mesmo em estiagem
Tem um subsolo rico.
Petróleo, minério e água...
E a água do velho Chico.
Mas a tal transposição
É pra outra geração
Acho que num é pro meu bico!
*
Vejo tudo e triste eu fico
Com o céu azul cinzento
Com a fumaça do fogo
Poluindo o firmamento.
Solo limpo, sol vermelho
Límpido igual um espelho,
Cheiro de morte no vento!
*
A seca traz sofrimento
Para o povo do lugar.
O alimento é tão caro
Que ninguém pode comprar.
Sem as frentes de emergência,
Vai ser grande a inadimplência
Só Deus pode nos salvar!
*
Janeiro sem trovejar,
Sem relâmpago em Fevereiro,
Março, Abril e Maio secos
Junho e Julho nem o cheiro...
É seca no meu Sertão,
Peste, miséria, inflação...
No Nordeste brasileiro!
*
Sol mata até formigueiro
Sem sombra para ficar.
Não escapa nem a sombra
De quem se aventurar
Ficar muito tempo exposto...
Mas no inverno dá gosto
Ir pra roça trabalhar!
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Sem chuva para molhar
A terra e mudar o clima.
A semente não germina
Com a terra seca encima.
Quando germina não cresce,
Quando cresce não floresce...
Morre a planta e a alta estima!
*
Sem a chuva esquenta o clima,
Sem água não tem fartura.
A cana vira capim,
Morre e não dá rapadura.
O Nordeste sem inverno
Esquenta, parece o inferno,
O clima é uma brasa pura!
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Conheço o que é a secura
De uma seca e nesse teste.
Pois sou um sobrevivente
De uma que foi a peste.
Setenta que já fez bodas...
Mas essa é a maior de todas,
Porque é em todo o Nordeste!
*
O céu de cinza se veste,
A roça no abandono.
A caatinga esturricada,
Março com clima de outono.
E um cachorro abandonado
Magro, feio, arrepiado
Ainda espera o seu dono!
*
O céu parece um carbono
Com poucas nuvens espaças.
Quando ameaça chover
Fica só nas ameaças.
As frutas que tem são pecas
E a mata com folhas secas
Não esconde as poucas caças!
*
É das piores desgraças
A falta de um bom inverno.
As nuvens mudam de cor,
A mata muda de terno.
E o calor exagerado
Deixa tudo esturricado,
A seca é o pior inferno!
*
Só mesmo o pai eterno
E a santa mãe natureza.
Podem fazer algo que
Evite essa malvadeza.
Que é ver o gado morrendo
E a raça humana sofrendo
Sem ter água e o pão na mesa...
*
A seca traz a incerteza
E a fome assola o Sertão.
Pois seca o reservatório,
Rio, cacimba e cacimbão...
O sol já nasce aquecido
E o solo acaba exaurido
Sem vida e sem compaixão...
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Falta milho, arroz, feijão,
Óleo, sabão, sal e alho...
Falta de tudo em casa,
Lá fora falta trabalho.
Mas as contas que aparecem
Não diminuem, só crescem,
Como pagar sem cascalho?
*
Sem inverno tudo é falho
Falta tudo sem chover.
Falta animo, falta a força
E a vontade de viver.
Na seca o clima é pesado,
O calmo fica estressado
Por não ter o que comer!
*
Seca o poço de beber
E da cisterna também.
Quem crê em Deus chora e reza,
Com os olhos fixos no além.
Pedindo a Deus pai eterno
Pra mandar um bom inverno
Já para o ano que vem...
*
Além de tudo inda tem
Cadáver em todo o lugar.
A caatinga sem ter sombra
Pra um “cibito” descansar.
O roceiro se amargura,
Por ver que de agricultura
Não dá mais pra escapar!
*
As aves tendem a migrar
Por não ter mais alimento
Voam para bem distante
Pra se livrar do tormento.
O homem não pode ir...
Fica e é o jeito sentir
Cheiro de morte no vento!
*
Falo do meu sofrimento
E de outros que vi passar.
Vi seca quando criança,
Jovem, e posso afirmar
Guardo-as na mente e de cor
Sei que essa vai ser pior
Num todo e vai piorar...
*
E a promessa de irrigar,
Foi promessa e nada mais.
Que iludiu meus avôs,
Meus bisavôs e meus pais,
Eu também já me iludi,
Só que depois descobri,
“São armas eleitorais”!
*
Nordeste sofre demais
Com a ausência do inverno.
Mas não se entrega a tristeza
Nem blasfemam o pai eterno.
Por isso é que o nosso povo,
Tanto faz o velho ou novo
Tem humor e é fraterno!
*
Sem inverno é um inferno,
Mas com relâmpago e trovão.
Sou feliz igual criança
Quando a chuva molha o chão.
Chuva à noite, sol ao dia,
Essa é a boa parceria
Para a boa “plantação”
*
Quando eu vejo o Sertão
Sem o verde da caatinga.
Vestindo o cinza da seca
Que mata até a restinga.
Fico pensativo e triste
Por que onde ela persiste
Nem o mandacaru vinga!
*
Com estiagem o homem xinga
Mas há possibilidade
De uma boa colheita
Mesmo com a dificuldade.
Mas com seca declarada
A barra fica pesada
E o estado é, calamidade!
*
A seca traz castidade
Pra qualquer espécie viva.
Vaqueiro perde o emprego,
Sem ganho fica a deriva.
E o patrão perde o seu gado
Perde a roça e o empregado...
Com a seca destrutiva!
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A seca é pejorativa
Deixa tudo decadente.
Em tudo tem escassez
Não tem cristão que aguente.
E além da fome e o calor
Tem agiota e explorador
Pra sugar o mais carente!
*
Peço ao Deus onipotente
Que para o ano que vem
Ele mande um bom inverno,
Nos próximos anos também.
Com fartura pra essa gente...
Bom inverno, não enchente
E que os anjos digam: amém!
*
Fim.