quarta-feira, 3 de junho de 2009

Alguns mestres da vida animal, autor, Damião Metamorfose.


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Vi de tudo nessa vida
É vivendo e aprendendo
Já vi as flores se abrindo
Para um dia nascendo
E o besouro mangangá
Na flor do maracujá
A fecundação fazendo.

A águia é um exemplar
Tão soberano e ordeiro
Voa alto e faz seu ninho
Num alto despenhadeiro
Se oculta para a morte
Testa toda a sua sorte
Ao fazer seu vôo primeiro.

A ovelha em seu balido
Sons e tons tão parecidos
Para os humanos são berros
Que chegam aos seus ouvidos
Mas é o seu linguajar
Serve pra identificar
E achar filhotes perdidos.

O pica pau dar um jeito
De furar tronco de angico
Com perfeição que parece
Que usou um maçarico
E antes que eu esqueça
Não sente dor de cabeça
Nem racha a ponta do bico.

O galo acorda mais cedo
Pra cuidar do seu arem
Seu relógio biológico
Marca as horas muito bem
Essas coisas naturais
Até os simples mortais
Aqui no nordeste tem.

O jumento é um elemento
Resistente e de bom tino
Relincha na hora certa
Transporta adulto e menino
Hoje vive abandonado
Come lixo infectado
Mas é herói nordestino.

O gavião de coleira
A um quilometro de altura
Parece um ponto no espaço
Um displicente até jura
Para atingir sua meta
Fecha as asas feito seta
Desce e fisga o que procura.

Parece um código de barra
A rolinha cascavel
Com os sons das suas asas
Voando pelo vergel
O seu canto com certeza
Alegra a natureza
E inspira o meu cordel.

O quero-quero engenhoso
Para não ser devorado
Poe o seu pé no pescoço
Troca quando está cansado
E quando ele adormece
O pé escorrega e desce
E o mesmo, fica acordado.

Acho bonito o conflito
Do teiú com uma cobra
Um tem veneno e o outro
Tem malandragem de sobra
Se a cobra lhe acertar
Morde um pinhão pra sarar
Só Deus compõe essa obra.

O teiú na estiagem
Faz de um buraco aposento
Pra não perder energias
Seu coração bate lento
Não bebe água e nem come
Quando não resiste a fome
Faz do seu rabo alimento.

Um João de barro aprendiz
Faz seu lar rapidamente
Quando o ano é escasso
Abre a porta pro nascente
Não trabalha em feriado
Mas se o inverno é pesado
Vira a porta pro poente.

Vejam os tamanduás
Seus dentes são uns fracassos
Mas o seu tórax é forte
Muito mais forte os seus braços
Parece espécie indefesa
Mas eu não conheço a presa
Que resista aos seus abraços.

A cobra tão odiada
É símbolo até de seita
Estando em seu habitat
Não ataca, só espreita.
Não anda de marcha ré
Nasce vive e morre em pé
Por que cobra não se deita.

Um canto extraordinário
Tem os pardais na dormida
Quando chegam aos milhares
Numa arvore escolhida
Não tem anel nem coleira
Mas reconhece a parceira
Isso é que é lição de vida.

Cavando um buraco estreito
Sem pressa e com perfeição
O mestre fura barreira
Faz a sua habitação
Depois que cria a ninhada
Ou acaba a invernada
Ninguém vê um no sertão.

No sertão quem for medroso
Corre ao ver a mãe da lua
Inerte em uma estaca
De um curral perto da rua
Ali ela choca o ovo
Mas também assusta o povo
Com a musica que é só sua.

Um urubu a voar
Tem a suave beleza
Aproveitando as correntes
Plaina no ar com leveza
Quando o seu olfato atiça
Do alto sente a carniça
E vem fazer a limpeza.

Se faltar chuva ou neblina
O tiziu em um mourão
Pula anunciando que:
Vai acabar o verão
Tiziu não é estudado
Mas é astrônomo formado
Nas campinas do sertão.

O beija flor de jardim
Com seu bonito bailado
Voa pra frente e pra trás
Quando quer fica parado
Só mesmo a natureza
Pra compor tanta beleza
Com um reino ameaçado.