sábado, 25 de dezembro de 2010

A poesia não morre* Autor: Damião Metamorfose.


*
Morre o jovem e o ancião,
A folha, o fruto a semente.
Tudo o que for vivo morre,
Seja sadio ou doente.
Só não morre a poesia,
Que mora dentro da gente!
*
Morre o ateu e o crente,
O protestante, o cristão.
Jesus, José e Maria,
Isabel, Joaquim e João.
Só não morre a poesia,
Na fonte na inspiração!
*
O batizado e o pagão,
Morre eu, morre você.
Morre o que é visível,
Até o que não se vê.
Só não morre a poesia,
Aquela que não se lê!
*
Morre a medida do tê,
O que tem dez, mil ou cem.
O que come caviar,
Filé mingon ou xerem.
Só não morre a poesia,
Que os anjos dizem amém!
*
Morre o mal e o bem,
A ovelha e o pastor.
Morre o ódio em meu peito
E em seu lugar nasce amor.
Só não morre a poesia,
Do poeta inovador.
*
O rico e o lavrador,
Vão pro buraco ou valeta.
o que não tem um destino,
O que tem destino e meta.
Só não morre a poesia,
Depois que morre o poeta!
*
A morte é quem nos completa,
Morre a noite e nasce um dia.
Que em seguida também morre
Pra terra ficar mais fria.
Nasceu, cresceu e morreu,
Só não morre a poesia!
*
Seca a água que sacia,
Depois que a fonte morre.
a morte é implacável,
Quando vem ninguém socorre.
Só não morra a poesia,
Sem ela a vida é um porre!
*
Morre o que anda e o que corre,
o sim, o talvez e o não.
Morre alegria e tristeza,
Solitude ou solidão.
Só não morre a poesia
Dentro do meu coração!
*
Fim.

Onde mora a poesia?* Autor: Damião Metamorfose.


*
Mora em qualquer pessoa,
Que liberta a inspiração.
No som do vento suave,
No mais forte e no tufão.
Nos casebres, nas mansões,
Nas selas de uma prisão.
*
A poesia está no pão,
Que às vezes falta à mesa.
Na serpente venenosa
Que imobiliza a presa.
Onde mora a poesia?
Em tudo o que tem beleza!
*
Mora em uma fortaleza
No empresário e no roceiro.
Em quem dorme nas calçadas,
Sem lençol e travesseiro.
E no cantador de coco
Quando bate em seu pandeiro.
*
Ela mora no terreiro,
De macumba e candomblé.
No romeiro em romaria
Sessenta dias a pé,
Pra pagar uma promessa
E confirmar sua fé.
*
Na classe alta ou ralé,
ela é sempre explorada.
Mas depois que vira livro,
Folheto ou xilografada.
Pode ser tocada e vista
E ter mais de uma morada!
*
Mora no tudo e no nada,
No criador e na cria,
No visível e invisível,
Na mãe que acaricia.
No canto e em qualquer canto,
Encontra-se poesia!
*
Mora no pulo da jia,
Com medo de uma jibóia.
No gesso do esfarrapado,
Com o braço na tipóia.
Em quem se acha normal
Vivendo na paranóia.
*
A poesia é uma jóia,
Nas mãos de um artesão.
Precisa ser lapidada,
Com cautela e atenção.
Pra ficar apresentável,
A um, mil ou um milhão.
*
Ela mora no refrão,
Da musica que não tocou.
E da que nem foi composta,
Porque o refrão faltou.
No cordel que faz sucesso
E o leitor não comprou!
*
Ela mora aonde eu vou
Nos recantos do Nordeste.
Do Norte, Sudeste e Sul
E por que não, Centro Oeste?
Ela mora no meu peito,
Oxente, cabra da peste!
*
Ela mora em quem investe,
Do cego de consciência.
Que não escolheu ser cego,
Cegou só por negligencia.
Daqueles que lhe negaram
O direito a inteligência!
*
Ela está na sapiência,
Do matuto analfabeto.
Que se rabiscar um “o”
Ainda fica incorreto.
A poesia é divina
E reside até sem teto.
*
No pai, no filho e no neto,
No sol quente ao meio dia.
Na brisa que me refresca,
No copo de água fria.
No pinguço que mistura
Cachaça com poesia!
*
Mora em que se delicia,
No sono, no sonho e ronco.
Nas flores que estão nos galhos,
Nos frutos, no caule e tronco.
Nos mais intelectuais,
Na grande massa e no bronco!
*
Ela mora até no onco
De massa que supurou.
Nos lugares mais longínquos
Que só o vento passou.
Onde eu vou em pensamentos,
Pois de outra forma eu não vou.
*
A poesia morou
Na mente do Patativa.
Seu tempo acabou na terra
E ela continua viva.
Na mente de outros seres,
Que tem mente criativa!
*
Fim.