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Matas cinzentas,
É a seca no Nordeste, Matando
mais que a peste,
Castigando o agricultor.
Não teve reza...
Que nos trouxesse o inverno, Para
aplacar este inferno
Com cheiro de morte e dor.
*
Não teve flor
De pau d arco e umburana, jatobá
e getirana
Facheiro e mandacaru...
Infelizmente
Sem torreão no nascente, relâmpago,
trovão, enchente
Quem se farta é o urubu.
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Nem o enxu
Fez a colméia na broca, na
roça nem tamboroca
De melancia vingou.
Dona cigarra
Cantou no mês de janeiro,
fevereiro e março inteiro
Até que estorricou!
*
Abril chegou
Seco, sisudo e cinzento... Pensei:
vai ser cem por cento
De sofrimento e verão.
Poços secando
Incêndios por toda parte,
paisagem da lua ou marte...
Predominaram o Sertão.
*
Só no porão
Muitos açudes ficaram e os
pequenos secaram
O peixe todo morreu!
Ar carregado
De poeira esvoaçante, sol
brilhante e escaldante
Deu quarenta creio eu.
*
Hoje choveu
Lagoa encheu de água nova, o
sapo já botou ova,
Molhou até minha rede.
Se Deus quiser
Vai continuar chovendo, quero
vê açude enchendo
Para acabar essa sede!
*
Fim.