terça-feira, 14 de setembro de 2010

O lugar que ninguém mora Ou O lugar que não existe * Autor: Damião Metamorfose.


*
Nasci no meio do mato,
Frase que já é batida.
De tanto eu repeti-la
Ao longo da minha vida.
Fazer o que se é verdade,
Se eu não nasci na cidade
Sou do campo e sou da lida?
*
Esse é o ponto de partida,
O gancho pra começar.
Mais um cordel sobre mim,
Minha origem, meu lugar.
Um lugar que no passado,
Era até bem povoado,
Mas passou a recuar.
*
Alto Oeste Potiguar,
Foi ali que eu nasci.
No sitio Açude Novo,
Três anos ali vivi.
Depois mudei de morada
E fui morar na Malhada
Alta, aonde eu cresci.
*
Infelizmente eu nem vi
Minha primeira morada.
Porque quando eu retornei,
Ela estava depredada.
Só vi um monte no chão,
De varas, telha e torrão,
Ruínas no meio do nada.
*
Casa quando abandonada,
Não resiste ao abandono.
Desmorona em curto prazo,
Cai igual folhas de Outono.
Dizem que casa tem vida,
Sofre e fica deprimida
E morre ausente do dono.
*
E assim nesse eterno sono,
O sitio não progredia.
Tudo em volta evoluiu
E ele não evoluía.
As famílias foram embora
E o que tem lá agora,
É uma casa vazia.
*
O meu pai sempre dizia...
Brincando em um tom gozado.
Que o lugar onde eu nasci,
Era amaldiçoado.
Que as terras não prestavam
E os donos maltratavam
O seu povo escravizado.
*
Ano passado ou “trazado”...
Veio a chuva em borbotão.
O açude transbordou,
Não resistiu a pressão.
O peixe, a água levou,
De resto, nada sobrou
Nem a lama do porão.
*
Se foi maldição ou não,
O açude foi embora.
O novo dono fez outro,
Bem maior que o de outrora.
Mas ganhou um apelido
E hoje ele é conhecido,
- O lugar que ninguém mora.
*
E eu relembrando agora,
Confesso que estou triste.
Rabiscando a última estrofe,
Fiquei de caneta em riste.
E pelo que descrevi
Eu acho que eu nasci
Num lugar que não existe.
*
Fim
*
14/09/2010