*
Moro no meio do mato,
Em uma grota da serra.
Como o que colho da terra,
Sou um matuto de fato.
Mas dei uma de gaiato,
E inventei de comprar.
Um invento espetacular,
Que promete o mundo em casa.
Mas o peste só me atrasa...
Escute o que vou contar!
*
Eu comprei um celular,
Que tem câmera digital.
Display tridimensional,
Que chega a encandear.
Na hora de carregar
A bateria arreada.
Passa um dia na tomada
E mesmo assim não carrega.
Sem bateria, não pega,
Com, não faz uma chamada.
*
Mais parece uma piada,
O celular que eu comprei
E que ainda não usei
Da forma mais adequada.
À noite a luz apagada
Ou se a energia acabar.
Ele pode me ajudar,
Porque tem uma luzinha
Clareia a casa todinha...
Só não serve pra falar!
*
Tento encontrar um lugar,
Pra ter sinal na antena.
Senão nem com a gangrena
Vai ter linha pra eu ligar.
Outro dia eu fui filmar,
Com a câmera que ele tem.
Na hora foi tudo bem
E eu pensei, vai ficar bom.
Mas depois ficou sem som
E não mostrava ninguém!
*
O meu celular também
Tem rádio e mp3.
Liga-se um de cada vez,
Difícil é ouvir alguém.
A voz: parece do além
Ou de outra dimensão.
E a sua televisão,
Três polegadas, de plasma.
Só tem chiado e fantasma,
Imagem que bom, tem não!
*
Tem dois chips e um cartão
De memória, com dez mega.
Mas o infeliz não pega
Nem com a reza do cão.
Quando eu faço a ligação,
Ele começa a chiar.
Na hora que eu me enfezar
Eu vou quebrar esse puto.
E saber por que matuto,
Cisma de ter celular.