*
Em uma praia distante,
Num lugar pouco habitado.
Morava um jovem senhor,
Praticamente isolado.
Que aprendera muito cedo,
A entrar no mar sem medo,
Pra ir pescar seu pescado.
*
Pra mantê-lo preservado,
Pescava um peixe por dia.
Sempre no tamanho exato
Da refeição que fazia.
Nunca se desesperava,
Se demorasse esperava,
Se sobrasse, devolvia.
*
Nas horas vaga saia
Pela costa caminhando.
Lixo ou entulho que o mar
Devolvesse, ia catando,
Jogando-os longe das praias.
Crustáceos, peixes e arraias...
Encalhado, ia salvando.
*
Quem a via conversando,
Cantando ou rindo sozinho.
Pensava que ele era louco,
Chamava-o de coitadinho.
E ele em sã consciência,
Cuidava com paciência
Do mar, com muito carinho.
*
No povoado vizinho
Tinha, um grande empresário,
No ramo da pescaria,
Que ofereceu um salário
Alto, pra ele ir pescar,
Mas ele disse: que o mar
Era um sacro santuário!
*
Pra não chamá-lo de otário,
O chefão da pescaria.
Usou de toda artimanha
E astucia que ele sabia.
Para tentar convencê-lo,
Por último fez um apelo,
Testando a sabedoria.
*
Tu pega um peixe por dia?
E o rapaz respondeu: sim.
Por que não dois três ou mil?
Porque um já dá pra mim.
Por que não vende o pescado
E com o dinheiro apurado,
Fica rico igual a mim?
*
Porque eu não penso assim
E quero o mar preservado.
Nisso o empresário disse:
Você é um caso isolado.
Já pensou como vai ser,
Depois que envelhecer,
Pobre, doente e cansado?
*
Continuou afobado:
Pense mais no seu futuro!
Acha que comer um peixe
E respirar esse ar puro.
Ter uma velha jangada
E essa roupa esfarrapada,
Vai lhe render algum juro?
*
Vem comigo, é mais seguro,
Dobro o que foi ofertado.
E o rapaz interrompeu
Em um tom bem moderado.
Se quiser me convencer
Diga o que é que eu vou fazer,
Com o dinheiro acumulado?
*
Por um instante calado
O empresário ficou.
Coçou a cabeça e disse:
Só isso me perguntou?
Então se eu explicar
Você vai me acompanhar?
-Convença-me que eu vou!
*
O empresário começou
A explicar bem detalhado.
O que devia fazer
Com o dinheiro acumulado.
Se não fosse convencendo,
O rapaz ia dizendo,
Porque não tinha aceitado.
*
Comprar um barco importado,
Ele: eu prefiro a jangada.
Uma rede nova e boa,
Prefiro essa remendada.
Sapatos, camisa e terno,
Um guarda roupa moderno...
Sou mais essa esfarrapada.
*
Casa boa pra morada,
Gosto mais dessa cabana.
Mulheres, muitas mulheres...
Essa minha não me engana.
Festa noticia em jornais,
Com uísque e muito mais...
Não senhor! Só bebo cana.
*
Então você guarda a grana,
No banco e com garantia.
Gasta quando estiver velho,
Vai ser bem feliz, sabia?
E o rapaz sem aceitar
Disse: por que esperar
Se eu sou feliz todo dia?
*
Viver com sabedoria,
Não depende do dinheiro.
Eu sou feliz com um peixe,
Não quero um cardume inteiro.
A minha felicidade
Depende da liberdade
E esse mar como parceiro!
*
Pode ir meu companheiro,
Mas não esqueça o aviso.
Pode guardar seu dinheiro,
Porque dele eu não preciso.
Guardar dinheiro é bobagem,
Quem só quer levar vantagens
Amanhã tem prejuízo.
*
O homem meio indeciso,
Se foi e não entendeu.
Mas espero que você
Entenda tudo o que leu.
Felicidade é viver,
Ser livre, amar e poder
Dizer que a vida valeu!
*
Fim.