*
Na vida nada é de graça,
Foi é e será assim.
Divida externa ou interna,
Do começo, meio ou fim.
Paga pra ver e não vê,
É comigo e com você,
Mas aqui falo por mim.
*
Seja coisa boa ou ruim,
Vai ter que pagar um preço.
Eu pago a quem não merece
E pago o que não mereço.
Já paguei para nascer,
Vou pagar para morrer,
Nem que me eu vire do avesso.
*
Pago pra ter endereço
E um ponto de referencia.
Pago pra abrir e fechar
A porta da residência.
Já estou até pagando,
O preço que estão cobrando,
Por não ter inteligência
*
Se eu perder a paciência,
Pago para me acalmar.
Não adianta eu me esconder,
Ou tentar me desculpar.
Mesmo com álibi perfeito,
Vou pagar do mesmo jeito,
Sem ter o que alegar.
*
Pegar na mão, abraçar,
Beijar ou dizer bom dia.
Andar só ou a procura,
De alguma companhia.
Se eu ficar só pensando,
O tempo vai calculando,
O valor dessa quantia.
*
Pago por essa poesia
Sem saber se a venderei.
Se eu desistir de escrevê-la,
Pago porque fraquejei.
O preço eu não sei ao certo,
Mas o cobrador tá perto,
Cobrando o que já paguei.
*
Os caminhos que eu trilhei,
Passo lento ou apressado.
O descanso que eu não tive,
O meu suor derramado.
Palavras que eu falei
E as vezes que eu me calei,
Se não foi, vai ser cobrado.
*
O que vivi no passado,
O que nem pude viver.
Se eu vivi ou não vivi,
Se eu pude ou não pude ser.
Nem adianta reclamar
Vivo ou morto irei pagar,
Até mesmo sem dever.
*
Toda forma de poder,
De amor ou de pecado.
Seja de pai ou de mãe,
Ausente ou aqui do lado.
Por mais que diga é de graça,
A cada dia que passa,
O preço é sempre somado.
*
Tudo que dei ou foi dado,
Tem segunda intenção.
Um olhar pede outro olhar,
Uma mão quer outra mão.
O macho quer uma fêmea,
A alma quer alma gêmea,
Coração quer coração.
*
O sonho quer a ilusão
E o direito de sonhar.
Viver é estar sonhando,
é poder realizar.
Mesmo sendo fantasia,
Cedo ou tarde a qualquer dia,
Alguém vai ter que pagar.
*
Hoje eu ando devagar,
Presto atenção no que passa.
Meu corpo sente a idade,
A vista cansada embaça.
Pago o que tu não mereces,
Mas por favor, não te esqueces,
Na vida nada é de graça.
*
Fim
*
19/11/2009