domingo, 11 de dezembro de 2011
Identidade...
Zélimeirando * Autor: Damião Metamorfose.
*
Patativa e Ludujero,
Que eram padre e pastor
De ovelhas desgarradas
Nas serras do roncador.
Formaram uma bela dupla
De cover do frade Supla
Que é filho de agricultor!
*
Quando eu era comprador
Comprei a África e o Saara
E transportei toda a areia
Pra lá, num pau-de-arara.
Isso foi quando eu fui nobre,
Mas agora que estou pobre
Me chamam de babaquara...
*
Criei vergonha na cara
E não sei contar mentira.
Por isso, tudo que eu digo,
Ninguém aumenta nem tira.
Posso até exagerar,
Porém mentir, nem pensar,
Mentira é prima da ira!
*
O sábio professor Lira
Que ensina perguntando.
Acho que sei mais que Ele,
Pois ensino desde quando
A terra foi descoberta.
Mentira ou verdade Terta?
E Ele é que ta ganhando...
*
Genésio entrou galopando
Com um jegue em Jerusalém.
Com noventa e nove, “aposto”
Que faltava um pra cem.
Um diz que onze outros, doze,
Treze e até quatorze...
Hoje nem sei quantos têm!
*
Herodes deu um vintém
Aos soldados que voltaram.
Porque não trouxeram o cabra
A quem eles procuraram.
Por causa dessa besteira,
Um deles deu uma carreira
E os outros se lascaram!
*
Quando os canhões dispararam,
Eu pra tentar impedir
Que o chumbo o acertasse
Corri para interagir.
Mas cometi um engano
E quando tampei o cano
Não deu tempo de fugir!
*
Passei noites sem dormir,
Tocando pra lampião.
Umas festas só de valsa
Nas noites de são João.
Mas no final fiz besteira
Porque saquei a peixeira
E rasguei o seu matolão!
*
Fui num cavalo do cão
Lá dentro de uma grota.
No tempo que eu casei
Com Camilinha Marmota.
Mas foi um deus nos acuda
E foi ali que o Juda,
Perdeu a primeira bota!
*
Reuni minha patota
No carnaval de dezembro.
Que começava em agosto,
Ou junho, eu já nem lembro.
Acho que esse carnaval
Ou foi antes do natal
Ou foi depois de setembro!
*
Dia quinze de Novembro
Debaixo de uma pitanga.
Com crise de caganeira
Dão Pedro arriou a tanga.
Fez encima do fuzil...
E gritou: viva o Brasil!
Nas margens do Ipiranga!
*
Uma carrada de franga
Que eu comprei de um viajante.
Não coube no meu roçado
Guardei todas na estante.
Só por isso a vizinhança
Olha com desconfiança
E me chama ignorante!
*
Lá no capim da vazante
Fui tocaiar um veado.
Armei a rede bem alta
E fiquei bem preparado.
Quando o bicho apareceu,
Dei um tiro, e quem morreu?
Não vi, eu tinha sonhado...
*
No testamento passado
Eu fui um rei, falecido
E foi lá que eu conheci
Um tal cabelão comprido.
Que o chamavam de Sansão,
Mas digo que é Damião,
Outro Sansão travestido!
*
Lá no sitio boi parido,
Na sombra da macambira.
Vi duas cobras corais
Possuídas pela ira.
Uma a outra engolindo,
Foi sumindo, foi sumindo...
Sumiu... parece mentira?
*
Tirei uma tataíra
Lá no sitio Alexandria.
Comecei irar a noite,
Terminei no outro dia.
E só o mel derramado,
Deu dois galões e o coado,
Dez tambores e uma bacia!
*
Eu vi um cego de guia
Correndo de um enxame.
De abelhas, no porão
Do açude do velame.
Por causa da rapadura,
Que era feita in natura,
Adoçada com inhame.
*
Nos carnavais, fui infame,
Antes da semana santa.
E almocei nos restaurantes
Que servem almoço na janta.
Já cantei com Zé limeira,
Na praia, no bar, na feira...
E provo que Ele não canta!
*
A minha força era tanta
Que um trator atolado,
Na lama de uma pedra
Desatolei o danado.
Fiz tudo só por fazer...
Eu só não posso dizer
O país e o Estado!
*
O Coliseu foi tombado
Com um espirro que eu dei.
Fiz uma colcha de rendas
Com um bilro que eu roubei
De uma defunta viva
De uma terra primitiva,
Depois com eu descasei
*
E fui eu que emborquei
O bacião de Brasília.
Ia fazer em silêncio,
Sem precisar de homília.
Só que a minha intenção
Era a da corrupção,
Virei foi a da família!
*
Também assei a Emilia
Do Sitio do pica-pau.
Prendi um juiz ladrão
De apelido: lalau.
Mas a justiça soltou
E o ladrão velho voltou...
Pra roubar nosso mingau!
*
Eu inventei o luau
E o galope a beira mar.
Também criei os demais
Estilos que estão no ar.
Com a minha verve altiva,
Ensinei à Patativa
E os demais a cantar!
*
Eu ajudei a pegar
Quem me aparou no parto.
Mas Ela não sabe disse
Se souber, tem um enfarto.
Agora eu não sei se conto
A Ela, esse assunto e pronto,
Porém dele eu estou farto!
*
Eu corri mais de um quarto
Do deserto do Saara...
Deixei o de Adolf Hitler,
Babando e doido de vara.
Dizendo que no futuro
Só ia ter homem puro
E com vergonha na cara!
*
A minha saga não para,
Mas ganhei aprovação.
Antes de Antonio Silvino,
Jesuino e Lampião...
Dos três fiz o funeral
E depois botei moral
No cangaço do Sertão!
*
Fiz um buraco no chão
Com o martelo da enxada.
Lá no Estado da Bahia
Que hoje é muito visitada.
Com véu de água cristalina,
Uns chamam de Diamantina
E outros, só de chapada!
*
Bebi água congelada,
Já fabriquei água em pó.
Já fui pastor em terreiro
De quizomba e catimbó.
Hoje sou aposentado
Recebo a paga em cruzado,
E gasto todinha só!
*
Nos Sertões do Caicó
Fiz água virar fumaça.
Na política fiz honestos,
Com nome limpo na praça...
Fiz a paz e dei pro Rio...
Fiz Nordeste ficar frio,
O que fiz, não tem quem faça!
*
Encontrei uma carcaça,
Dentro de um cemitério.
Que vale mais que um tesouro,
Mais que dinheiro ou minério...
Foi um crânio de um louco
E com ele eu ganhei pouco,
Mas construí um império!
*
Se eu estou falando serio?
Claro... Eu sou invocado.
Além de invocado, doido,
Além de doido, varado...
Já fui tudo o que não sou
E o pouquinho que sobrou,
É por está acordado!
*
Já Limeirei um bocado,
Por aqui vou encerrando.
Amanhã, quem sabe ontem
Ou nunca se ele for quando.
O sol se casar com a lua,
Talvez eu volte pra rua,
E faça um Zélimeirando!
*
Deus me ajudou, rimando,
Ajudou na oração.
Metrificou cada verso,
Improvisou em ação.
A mim coube descrever
O que manda o coração!
*
Fim.