Foto extraída do Google
*
Seu Natalino nasceu
No tempo dos coronéis...
Quando o pai leva um filho
Com Ele para os bordéis.
E a boa cachaça vinha
Nos velhos e bons tonéis!
*
Naquele tempo os quartéis
Dos pequenos povoados.
Tinha um sargento caduco,
Um cabo, um ou dois soldados.
Que por não fazerem nada
Pareciam uns cevados!
*
E todos eram indicados
Pelo chefão do lugar.
Treinados para dormir,
Comer muito e engordar.
Não prendiam nem arroto
Sem o prefeito mandar!
*
E era comum encontrar,
Um açougue, uma capela,
Uma pracinha pequena,
Toda na cor amarela.
E uma rua bem comprida,
Mas também só tinha ela!
*
E até a pensão daquela
Cidade, era no bordel.
Que também era o clube
De dança, bar e hotel...
Tudo de um mesmo dono
Que dominava o cartel!
*
Também tinha o quartel
Pra por ordem no lugar.
Ficava no fim da rua,
Bem longe do bordel-bar...
Onde o velho Natalino
Costumava frequentar!
*
Falei tanto do lugar,
Quase esqueço o Natalino.
Que nasceu ali bem perto
E viveu desde menino
Sem precisar de prefeito,
Pra mandar no seu destino!
*
A fazenda ouro fino,
Que Ele herdou dos seus pais.
Tinha açudes e barragens,
Roças e canaviais.
Gado de leite e de corte,
Pasto verde e milharais...
*
Moradores, serviçais,
Bom engenho e casa boa.
Dava do bom ao melhor,
Pra família e a patroa.
E nem mesmo com o prefeito,
Ele gostava de loa!
*
E como qualquer pessoa,
Seja do campo ou cidade.
Que constrói o seu império
Com ou sem dificuldade.
Quando não é egocêntrico,
Tem particularidade...
*
Natalino na verdade,
Tinha uma obsessão.
Que pra muitos era até
Falta de educação.
Mas pra Ele era normal,
Urinar sempre no oitão!
*
O contato com o chão,
Pra quem sempre foi pacato.
Que lidou com bicho e gente
Sem requinte ou fino trato.
Fez com que o fazendeiro
Gostasse de ir “ao mato”
*
Seu Natalino de fato
Era um homem respeitado.
Seja entre os fazendeiros
Vizinhos do povoado.
Da cidade a capital,
Dentro e fora do Estado!
*
Mas como era acostumado
A não usar o banheiro.
Quando ia pra cidade
Tinha que voltar ligeiro.
Pois devido o velho habito,
Chamavam o de baderneiro...
*
Certo dia o fazendeiro,
Tomou umas no bordel.
Bebeu tanto que esqueceu
Daquele habito cruel.
E quando veio a vontade
Não deu pra ir ao vergel!
*
Parou perto do quartel,
Porque já não agüentava.
Foi pro oitão de uma casa
E enquanto se aliviava.
Nem viu que o delegado
Lá do quartel lhe espreitava!
*
Voltou para onde estava
Com os “amigos” no barzinho.
Respirando aliviado,
Foi beber mais um pouquinho.
-E o delegado as pressas
Foi intimar o vizinho!
*
Com medo de um desalinho,
Perguntou com muito jeito.
Se Ele tinha visto o que
Por Natalino foi feito...
E o homem disse: eu não,
Eu nem enxergo direito!
*
O delega insatisfeito,
Correu para a prefeitura.
A pé mesmo, até porque,
Lá não tinha viatura.
E contou para o prefeito
Com requintes de agrura!
*
E o defensor da censura,
Que no caso era o prefeito.
Ao ouvir todo o fuxico,
Ficou muito insatisfeito.
E disse: Ele é homem honrado,
Mas temos que dar um jeito!
*
É contra as leis, não aceito,
Vou ser desmoralizado.
Mandar prender, eu não posso,
Pois perco o eleitorado.
Pra evitar piores danos,
Vamos ter que ter cuidado!
*
E chamou o delegado,
Para um particular.
Ordenando ao mesmo que:
Não deixasse se espalhar.
Baixasse uma portaria,
Com multa pra Ele pagar.
*
Vamos ter que exemplar,
Senão o seu Natalino.
Vai nos desmoralizar
E nos chamar de mofino.
Esse é o único jeito,
Pra barrar esse malino!
*
Assim traçaram o destino,
Do fazendeiro mijão.
Com multa de cem reais,
Será feita a punição.
Se acaso ele se alterar
Pode dá voz de prisão.
*
E o delegado babão,
Voltou pra delegacia.
Datilografou um texto,
Prescreveu como devia.
Depois foi com os soldados
Pra onde o homem bebia.
*
Ao chegar disse: bom dia!
Natalino o respondeu.
E perguntou em seguida,
Diga o que aconteceu?
E o delegado medroso
Tentou contar, mas tremeu!
*
Natalino estremeceu,
Deu um murro no balcão.
E perguntou em voz alta,
Diga o que eu fiz cidadão?
E o delegado contou,
O que Ele fez no oitão...
*
Posso dar voz de prisão,
Se o senhor se recusar.
A pagar a multa que:
Eu vou ter que aplicar.
A escolha é do senhor,
Não posso me demorar!
*
E quanto é que eu vou pagar?
Falou com gestos boçais.
-Por o que fezno oitão,
A multa é só cem reais.
Mas se houver reincidência,
Vai ser cobrado bem mais!
*
Então me passe essas tais,
Multas que tu tens na mão.
Cinco, dez, quantas tiver...
Ou faça outro talão.
Que hoje eu vou verter água
Em tudo que for oitão.
*
Pagou sem ter discussão,
Pra não permitir gracejo.
E continuou fazendo
Legalmente o seu desejo.
De se aliviar nos becos
E nos oitões do vilarejo.
*
E assim um Sertanejo
Achincalhou o prefeito.
Tirou onda com a policia,
Pra se manter satisfeito
e mostrar que com quem pode...
Não tem multa que dê jeito!
*
Fim.
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