quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O baiano é preguiçoso. Verdade ou mentira?> Autor: Damião Metamorfose.

*
Existe um velho ditado,
Que o baiano é preguiçoso.
Seja verdade ou mentira,
Ou simplesmente maldoso.
Conheço um pernambucano,
Que me contou que o baiano,
É por demais corajoso.
*
O nome dele é Pedroso,
Contou-me não faz um dia.
Que mês passado ele foi,
Visitar a sua tia.
Que mora numa ruela,
Pertinho de uma capela,
Em Salvador na Bahia.
*
Férias! Tudo que eu queria,
Mas quem tirou foi Pedroso.
Foi, conheceu e gostou,
Disse: que o clima é gostoso.
E confirmou que o baiano,
É um ótimo ser humano,
Amável e muito engenhoso.
*
Além de ser corajoso,
Viver bem e sossegado.
Metade do ano dança,
A outra fica deitado.
Pra tudo ele tem saída
E o seu estilo de vida,
Devia ser copiado.
*
Ele falou-me empolgado,
Do seu primo Caetano.
Que quando não tá dormindo,
Está debaixo do pano.
É bem casado com Hortência,
Mas na sua adjacência,
Faz uns dez filhos por ano.
*
Ganha a vida soberano,
Sempre deitado na rede.
Dorme acorda, acorda e dorme,
Ali mata a fome e sede.
Pra não gastar energia,
Quando o balanço alivia,
Nem bate o pé na parede.
*
E eu perguntei, nem da rede,
Esse cabra se levanta.
E pelo o que você disse,
Vem pra rede, almoço e janta.
Ou você é mentiroso
Ou ele é um preguiçoso,
Me explique, em nome da santa?
*
É amigo não se espanta,
Na Bahia, isso é tática.
Enquanto a mente descansa,
Ele poe planos em pratica.
Caetano é genial,
Não faz serviço braçal,
Usa só a matemática.
*
Com tanta gente simpática,
Sol de janeiro a janeiro.
Turistas cheios das notas,
Carnaval o ano inteiro.
Pra ser bem renumerado,
Pra que trabalho pesado,
Se ganha mais com o maneiro?
*
Baiano é hospitaleiro,
Trata a todos como irmão.
Por ser muito criativo,
Usa a imaginação.
Sem roubo ou maracutaia,
Vende terrenos na praia,
Sem possuir nenhum chão.
*
Foi casa, vira pensão,
Cada palmo é alugado.
Engarrafa água do mar,
Diz que é de um templo salgado.
Com tanta facilidade
E toda essa habilidade,
Pra que trabalho pesado?
*
Ainda é indenizado,
Com auxilio maternidade.
Cada filho é uns dois mil.
Que ele é dono da metade.
Fazendo a grana girar,
Arma a rede e vai deitar,
E dorme bem sossegado.
*
Para quem é despojado,
Mocassim é pé no chão.
Fez sombra é uma casa,
Roupa fina é um calção.
De gala é um abadá,
E se for pra vadiá,
Fica mesmo é peladão.
*
A rede é cama e colchão,
O clube é a avenida.
A roça são os ensaios,
Dos oloduns dessa vida.
Tendo ensaio, tem turista,
É só dar uma de artista,
Que a grana é garantida.
*
A mãe, dona Margarida,
Essa é que é corajosa.
Quando não está dormindo,
Tá no terreiro de Rosa.
E quando chega cansada,
Pra dar uma relaxada,
Deita-se na preguiçosa.
*
Oh! Terra maravilhosa,
Cheia de paz e alegria.
O tempo que fiquei lá,
Troquei a noite no dia.
Foi cem por cento lazer
E se não tinha o que fazer,
Armava a rede e dormia.
*
A minha prima Sofia,
Tá igual ao Caetano.
Quando não dança ela dorme
e acorda fazendo plano.
Oh! Neguinha inteligente,
Aprendeu a fazer gente,
E pari um filho por ano.
*
O meu tio Floriano,
Já cansou de descansar.
Armou a rede na área,
Dormiu até se cansar.
Quando a rede se rasgou,
Caiu no chão e ficou,
Sem pressa para acordar.
*
Precisou se aposentar,
Porque já está cansado.
Procurou um sindicato,
Bem pertinho, ali do lado.
Achou o dono dormindo,
Um minuto e voltou rindo,
E já vinha aposentado.
*
Não sei se em todo estado,
Pois só fui a Salvador.
Lá da menina a senhora,
Do menino ao senhor.
Não vi ninguém vadiando,
Ou é dormindo ou dançando,
Oh! Povo trabalhador.
*
Mesmo com tanto calor,
É aquele corre-corre.
Passa trio, entra trio,
Vem outro trio e socorre.
Quando acaba o carnaval,
A micareta é geral,
Não sei como ninguém morre.
*
Quando alguém fica de porre,
Cambaleando num canto.
Bebe a metade da dose,
Outra metade é pro santo.
Pois além de corajosos,
Todos são religiosos,
Bahia tem esse encanto.
*
Meu amigo eu brinquei tanto,
Que ainda estou cansado.
É preciso ter coragem,
Pra dar conta do recado.
Lá quando eu não dormia,
Bateu na lata eu corria,
Já estava abaianado.
*
Não existe feriado,
Todo dia tem trabalho.
Quando um está cansado,
Outro ajuda, quebra um galho.
Mas ninguém vive estressado,
Porque trabalha deitado,
Carteando um bom baralho.
*
Pra tudo eles têm atalho,
No tempo e na hora certa.
Pra tirar água de coco,
Na hora que a sede aperta.
Eles usam um canudão,
Que fura o coco do chão,
Veja que ideia esperta!
*
Ou fica de boca aberta,
E bebe até se fartar.
E quando o coco é gigante,
Antes de a água acabar.
Aquele que é mais tacanho,
Aproveita e toma um banho
E depois vai descansar.
*
Esse dito popular,
Que o baiano é preguiçoso.
É coisa de fofoqueiros,
Desocupado e invejoso.
Tudo o que disse é verdade,
Ali naquela cidade,
Vi um povo corajoso.
*
Acreditando em Pedroso,
E em tudo que ele contava.
Eu escutava calado
e de nada duvidava.
Teve horas que até,
Me vi na praça da sé,
No sonho eu ia e voltava.
*
Quanto mais ele falava,
Mas eu calado assistia.
Imaginei Caetano,
O seu tio, a sua tia.
E até fiquei encantado,
Com o corpo bronzeado,
Da sua prima Sofia.
*
Meu Deus! Como eu gostaria,
De conhecer Salvador.
Conviver com essa gente,
Que tem cultura e valor.
E como disse o Pedroso,
Povo astuto e corajoso,
Honesto e trabalhador.
*
Ir à igreja do senhor
do Bonfim, como eu queria.
Ver as baianas lavando,
Toda a sua escadaria.
Dançar ao som do Olodum,
Mas como estou sem nenhum,
Nem de férias, eu podia.
*
Enquanto eu fui á Bahia,
Sem sair do meu lugar.
Voltei cheio de perguntas,
Mas quando fui perguntar.
O Pedroso respondeu...
Sinto muito, mas me deu,
Vontade de me deitar.
*
Mas se tu ouvir falar,
Esse ditado maldoso.
Que o povo da Bahia,
Não trabalha, é preguiçoso.
Desminta esse vagabundo,
Lá é melhor lugar do mundo
E quem garante é Pedroso.
*
Deitou-se todo dengoso,
Acordou no outro dia.
Mas antes ele contou,
Isso que eu tanto queria.
A verdade sobre o povo,
Ordeiro lá da Bahia.
*
Fim
14/10/2009
















2 comentários:

  1. Esse é o Grande Damião Metamorfose. Vejo mais uma qualidade sua, que é conhecer a cultura da Bahia. Eu não sou natural de Salvador, mas moro desta cidade há sete anos, e já a conhecia bem da mídia. A Bahia Velha é isso aí mesmo. É um povo que sabe viver quando na verdade seria sobreviver. Aqui ninguem se senta e chora não: se for preciso dá murros em ponta de faca, mata e morre, mas os momentos de lazer tem que ter. Crianças ficam em casa chorando enquanto a mãe vai pro Reggae. Casais se separam, mas aquela coisa boa continua rolando!
    Aqui as mulheres gostam e valorizam são os cabras tortos, por isso tanto filhos sem pai.
    A Bahia é essa coisa linda, que sinceramente me orgulha: "o velho jeitinho brasileiro" dve ter nascido aqui, porque pra tudo se dá um jeito. Na política mesmo, a coisa finciona na base do "tu me ajeuta que eu te ajeito". Baiano quando ganha dinheiro, gasta e só volta a trabalhar quando tá a nenhum novamente: pé-de-meia é só para botar no sapato. A gente gosta de simplificar a coisa: porque é que o berimbau tem apenas uma corda?
    E nem vou falar das "negas" do pagode!
    Agora mesmo, já me cansei de escrever, já olhei para um colchão que tem estirado aqui no chão. Dá uma descansadinha, né velho, ninguuém merece!!

    Abraço

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  2. Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk, grande Rutinaldo, obrigado véi, adorei seu comentário. Sabes que sou teu fã né cabra, inté.

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