Eu sou a face da terra
Que se move no arado
Pedaço de chão molhado
Com o sangue sujo da guerra
Sou o bezerro que berra
Sentindo a falta do leite
Sou a gota de azeite
Que põe sabor na salada
Um pouco de tudo e nada
Alegórico e sem enfeite
Por favor não me rejeite
Sou urubu que tem fome
Fareja a carniça e come
Resto pra mim é deleite
Eu sou assim me aceite
Humilde até na riqueza
Sou sujeira,sou limpeza
Sou o vento poluído
Pedaço de pão dormido
Sou parte da natureza
Sou, a criança indefesa
O eco do seu sistema
A solução do problema
Comida que falta a mesa
Da serpente eu sou a presa
Da águia sou a visão
Sou ave de arribação
Que migrou para o nordeste
Um sonhador que investe
Na cultura do sertão
Eu sou a raiz, sou chão
Eu sou a roça perdida
Sou pé de planta sem vida
Sou chuva, sou erosão
Também sou calo na mão
De um caboclo sonhador
Que nunca guardou rancor
Da mão que já te feriu
Sou a árvore que caiu
No corte do lenhador
Por isso eu peço um favor
Me respeitem eu sou a vida
Não usem inseticida
Me tratem com mais amor
Usem melhor o trator
A mata é o meu pulmão
Porque tanta ingratidão
Comecem a me proteger
Se eu morrer quem vai morrer
São os filhos de Adão.