Na corrida pelo ouro,
Ninguém quer subtração.
Quem tem cem deseja mil,
Ao ter mil quer um milhão.
Depois de velho e cansado,
Vê que perdeu o passado
E o presente é exaustão.
.
Por inveja ou ambição,
Muita gente tem vivido.
Enquanto soma em riquezas,
Seu tempo é subtraído.
Depois que perde a saúde,
Não tem dinheiro que ajude,
Torna-se um rico falido.
.
O seu tesouro escondido,
Conquistado com trapaça.
Fica sempre mais inútil,
A cada dia que passa.
Tudo o que sempre sonhou
teve, mas não desfrutou,
Serviu pra que, qual a graça?
.
O seu dia é uma devassa,
A noite uma eternidade.
Tem por companhia o ego,
A depressão te invade.
Sem tempo pra reagir,
Só o que resta é sentir,
Angustia dor e saudade.
.
Perdeu a flor da idade,
Concentrado no seu sonho.
Hoje cansado e doente,
Pesaroso e enfadonho.
Conseguiu o seu tesouro,
Mas é o brilho do ouro,
Que te deixa mais tristonho.
.
Seu pesadelo é medonho,
seu corpo perde o calor.
Tem tudo que o ouro compra,
Inclusive a própria dor.
Vive em seu mundo isolado,
Com tanto ouro guardado
e a vida não tem valor.
.
Nunca teve um grande amor,
Nem sequer uma companhia.
Mergulhado no seu sonho,
Competição, correria.
Hoje sozinho em seu canto,
Mata a sede com o pranto,
Que vem da alma vazia.
.
A paz que tanto queria,
É uma guerra de horrores.
Conseguiu ser respeitado,
Ser senhor entre os senhores.
Sem sequer ter um afago,
Embriaga-se com um trago,
No cálice das próprias dores.
.
Esqueceu tantos valores,
Buscando um objetivo.
Magoou e atropelou,
Às vezes sem ter motivo.
Pra depois ficar sozinho,
Bebendo o amargo vinho,
Da safra de um morto vivo.
.
Quem passou pelo seu crivo,
Decerto foi depenado.
Seu jogo não permitia,
Ter um final empatado.
Buscou tanto enriquecer,
Que a medida do ter,
O deixou exterminado.
.
Pra que ouro acumulado,
E não conseguir viver?
Porque perseguir um sonho,
Realiza-lo e sofrer?
A vida é pra ser vivida,
Não pra se ter por media,
Só a medida do ter.
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