quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A discussão da mandioca e o milho> Autor: Damião Metamorfose.



A discussão da mandioca e o milho> Autor: Damião Metamorfose.
*
01=I
*
Meu avô sempre dizia
Pra mim, que planta falava.
Sorria e ficava triste,
Ouvia e até chorava.
Eu sempre escutei calado,
Mas por ser desconfiado,
Às vezes eu duvidava.
*
02=II
*
Dia desse eu estava,
Indo lá para o roçado.
De um vizinho que me deu,
Milho para um cozinhado.
E umas vagens de feijão,
Pra fazer um rubacão,
Com couro de porco assado
*
03=III
*
Lá também tinha plantado,
Bem nas laterais da broca.
Muitos pés de macaxeira,
Que uns chamam de mandioca.
-Mas antes de chegar lá,
Eu fui caçando preá,
Com uma espingarda de soca.
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04=IV
*
Fazendo a mira e de “coca”
Debaixo de um juazeiro.
Eu estava, quando ouvi...
Lá na roça um converseiro.
Desarmei a espingarda,
Resguardei a retaguarda,
E fiquei alcoviteiro.
*
05=V
*
Vento suave e rasteiro,
A mata silenciosa.
Tirando algum passarinho,
Que quando vê gente goza.
A paz era tão serena,
Que se caísse uma pena,
Soava melodiosa.
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06=VI
*
Mas foi ficando nervosa,
A conversa que eu ouvia.
Fui andando a passos lentos...
Já sem fazer pontaria.
Cheguei mais perto pra ver,
Doidinho para entender,
O que ali acontecia.
*
07=VII
*
Em cruz credo ave Maria,
Santo pai, espírito e filho.
O meu susto foi tão grande,
Que errei no trocadilho.
Ao ver que aquela intriga,
Era o começo da briga,
Da mandioca e o milho.
*
08=VIII
*
O sol tava que era um brilho,
Céu sem nuvem e azulado.
Com o susto eu senti sede,
Fiquei tremendo e suado.
Mas como já fui roceiro,
Mastiguei o marmeleiro
E fiquei aliviado.
*
09=IX
*
Procurei um reservado,
Na sombra de um marmelo.
Acendi um borozinho,
Sentei-me no meu chinelo.
Da espingarda fiz encosto,
Fiquei abanando o rosto
E assistindo o duelo.
*
10=X
*
Bicho do dente amarelo,
Assim disse a mandioca.
Se eu não te protegesse,
Daqui do aceiro da broca.
O gado tinha invadido
O roçado e te comido,
Tu nem tinha tamboroca.
*
11=XI
*
Cale essa boca e se toca,
Macaxeira despeitada.
O patrão não te escolheu,
Porque tu és aguada.
Ele falou para mim,
Que macaxeira é tão ruim,
Que a boa fica enterrada.
*
12=XII
*
Não estou te devendo nada,
Disso eu tenho confiança.
O patrão me pos aqui,
Pra te fazer segurança.
Estou no aceiro da broca,
Mas quando eu for tapioca,
Vou alimentar criança.
*
13=XIII
*
Tu inda tens esperança,
Que alguém queira tapioca?
As crianças de hoje comem,
É salgadinho e pipoca.
Bolo de fubá, sucrilho,
Curau, sorvete de milho,
E o meu suco, belezoca.
*
14=XIV
*
Convencido, a mandioca,
É tão útil quanto o milho.
Com ela se faz farinha,
Fécula, goma e polvilho.
E as crianças do Brasil,
Em mil afirmo que as mil,
Adoram comer sequilho.
*
15=XV
*
Meu patrão disse que o filho,
Gosta de mim cozinhado...
Na canjica, angu, pamonha,
Xerém, cuscuz e assado.
Em tudo eu sou um deleite
E estou até no leite,
Porque sou ração pro gado.
*
16=XVI
*
Eu sou melhor abestado,
Deixo a mesa mais bonita.
Sou dez com carne de sol,
Cozida, ao forno ou frita.
E essas folhas aqui,
Lá no norte é tucupi,
Que é gostoso e excita.
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17=XVII
*
A milharada é bendita,
Por isso estou no roçado.
Da raiz ao meu pendão,
Tudo é bem aproveitado.
Meu óleo é delicioso
E até uísque fogoso,
Com meus grãos é fabricado.
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18=XVIII
*
Só se for falsificado,
Bicho pabo e asqueroso.
Eu sou muito mais gostosa,
Tudo em mim é mais gostoso.
Tu tens mais variedade
E eu tenho mais qualidade,
Ganha como mentiroso.
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19=XIX
*
Pergunte a aquele medroso,
Que está ali deitado.
O que ele veio buscar,
Aqui no nosso roçado.
Resolva esse empecilho,
Se não for feijão ou milho,
Eu me dou por derrotado.
*
20=XX
*
E nisso eu ouvi um brado,
Acordei me espreguiçando.
Procurei o meu chapéu,
Vi o meu boró queimando.
Tirei do olho a remela,
Dei outra espreguiçadela,
E fiquei ali pensando.
*
21=XXI
*
Será que eu tava sonhando...
Ou é amalucaçao?
Levantei-me e fui pra roça,
Catei o milho e o feijão.
Fui ao aceiro da broca,
Só num arranquei mandioca,
Porque não tinha enxadão.
*
22=XXII
*
Toda aquela discussão,
Serviu para eu conhecer.
A importância das plantas
Ou de qualquer outro ser.
Tirei a bala da soca,
Nunca mais eu faço broca,
Nem mato para comer.
*
23=XXXIII
*
D*eu pro leitor perceber,
A* síntese e o estribilho.
M*esmo eu inventando é,
I*mportante pro seu filho.
A*mandioca ficou,
O*feijão foi com o milho.
*
Fim
18/11/2009.

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