quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Alguns tipos de enterro* Autor: Damião Metamorfose.



*
Peço licença ao leitor,
Para narrar com cuidado.
Os enterros que já fui,
Mesmo sem ser convidado.
E se eu exagerar...
Peço pra me perdoar,
Por ter sido indelicado.
*
De acordo com o que deixado,
e citado em testamento.
Será maior o cortejo
E o sucesso do evento
Porem se for um mendigo,
Sem ter lapide nem jazigo,
Quebra uns cinquenta por cento.
*
Sendo de um rico tem lamento,
Ao contrario do emergente.
É tanta bajulação,
Que até quem não é parente.
Fica a noite de plantão,
Pra carregar o caixão,
Se apresentam na frente.
*
De um bebê, tem pouca gente,
Esse não tem carreata.
Vão uns vizinhos, uns amigos
E talvez uma beata.
Não tem multidão na praça,
É um evento se graça,
Sempre sai na hora exata.
*
Não há emoção mais grata,
Que ver um filho nascer.
Tê-lo envolvido em seus braços,
Educá-lo e ver crescer.
E a dor maior da vida,
É ter como despedida,
Ver esse filho morrer!
*
Mas um jovem ao falecer,
De acidente ou não.
Nem precisa divulgar,
Para juntar multidão.
E nesse o carro de som,
Só toca rock do bom,
Titãs, ira e legião...

*
As faixas escritas são,
Só com frases musicais.
Do tipo: os bons morrem logo
Ou falando de ideais.
Tem discurso de amigo,
Muitas velas no jazigo,
Que emocionam demais!
*
Cachaceiro são legais,
Não vejo ninguém chorar.
Só vêm alguns papudinhos,
De ressaca a soluçar.
Depois do enterro os amigos,
Vão ouvir bregas antigos,
Tomando uma no bar.
*
Pinguço tem que deixar,
Divida no bar de algum Chico.
E comerciante esperto,
Perdoa e nem quer fuxico.
Mais no final a patroa,
Paga tudo numa boa,
Só que como, eu não explico.
*
Já enterro de político,
Desses de alto escalão.
A elite podre vem toda,
Chega a dobrar quarteirão.
Na frente um carro importado,
Top de linha blindado,
Para levar o caixão.
*
E aproveitam a ocasião,
Pra distribuir santinhos.
Aperto de mão, sorrisos,
Fazer discurso mesquinho.
É a arte da esperteza,
São mestres em safadeza
E crimes de colarinho...
*
Mas político pobrezinho,
Considerado direito.
Só vem a malha miúda,
Vereador, ex, prefeito...
Velam lá no salão nobre,
Mais como tem pouco cobre,
Vai na mão mesmo é o jeito.

*
De sogra não tem proveito,
Achei um pouco sem graça.
Tinha chá, bolo e café...
Só faltou mesmo à cachaça.
Nesse um genro fez protesto,
E inventou um manifesto,
Pra fazer festa na praça.
*
Em outro eu vi arruaça
e umas comemorações.
Fiquei olhando de longe,
Pra não dar nem sugestões.
Boa ou ruim a sogra é deles,
Mais deu para ver que eles,
Tinham lá suas razões.
*
Um que não faço menções,
É o enterro de anão.
Pois eu nunca vi um morto,
Nem vou dar opinião.
Mas se eu presenciar,
Prometo que vou contar,
Numa outra edição.
*
Se o anão morre ou não,
Isso é segredo de estado.
Ou como o grande Elizeu,
Ele é arrebatado.
Ou como a águia se esconde,
Num lugar que não sei onde,
Só pra não ser enterrado.
*
De gay é inusitado,
A maioria é cremado.
E depois em cada esquina,
O seu pó é espalhado.
Porque na atualidade,
Seja no sitio ou cidade,
A classe tem aumentado.
*
E o pó deve ser jogado
nas ruas, em cada esquina.
Que a cada dia aumenta,
Barbados de fala fina.
Rebolando o fiofó,
Deve ser com esse pó,
Que o cabra se contamina.

*

Caloteiro é uma ruína,
quando morre um trapaceiro.
Deixa a viúva quebrada,
Em colapso financeiro.
E a mesma por sua vez,
Caloteia logo três,
Padre, caixão e coveiro.
*
Em casa de caloteiro,
Tem conta por todos os lados.
Água, luz e telefone,
Açougue e supermercados.
Depois que enche a barriga,
Com o credor se intriga,
São todos uns cabras safados!
*
Enterros são engraçados
E o que achei mais divertido
Foi lá na rua da lama,
Em um lugar escondido.
Na casa da jacutinga,
Com vinho, cerveja e pinga,
E prazer no bom sentido.
*
Um que eu vou e convido,
É enterro de rapariga.
Pode ir que é uma festa,
Quem já foi a um que diga.
Lá a gente canta e dança,
Bebe até encher a pança,
E no fim acaba em briga!
*
Vagabundo, esse não siga
E se estiver na prisão.
Desses bem considerado,
Com patente de ladrão.
Tratam com todo o respeito,
E até levam o sujeito,
Na mala do camburão.
*
Mais se for só um ladrão,
Desses que ninguém respeita.
Sendo em caso de homicídio,
Não existe nem suspeita.
Estando em casa ou na sela,
Não tem choro nem tem vela,
E a cova é uma vala estreita.

*
Seja acidente ou maleita...
Cada um vale o que tem.
Quem planta o mal, colhe o mal,
Quem faz o bem, colhe o bem.
Seja educado ou hostil,
Quem tiver mil, vale mil,
Quem tiver cem, vale cem.
*
Vamos do mundo pro além,
Renascemos pra Jesus.
Plantando trevas, tem trevas,
Só tem luz, quem plantou luz.
Eu não acredito em sorte,
Nem tenho medo da morte,
Essa inevitável cruz!
*
O vaidoso faz jus,
Pra tentar se promover.
Assassina, mente e rouba...
Faz quem te ama sofrer.
Em nome da vaidade,
Mobiliza uma cidade,
Mesmo depois de morrer.
*
Eclesiastes ao dizer:
Tudo aqui é vaidade,
Ventos que vem e que passam,
Novo não é novidade.
Debaixo do céu meu povo,
Não existe nada novo,
Nem cem por cento verdade.
*
D-eus fez todos sem maldade,
A-Adão e Eva entregou.
M-ais o demo vaidoso,
I-mpos e contaminou.
A-inda bem que Jesus...
O-nipotente voltou.

*

Fim.

Nenhum comentário:

Postar um comentário