domingo, 26 de junho de 2011

Exagerando e mentindo * Parte I * Autor: Damião Metamorfose.


*

Eu já recitei Cordel

Em braile, pra cego e surdo.

E um mudo falou pra mim

Que o poeta do absurdo.

Era o Orlando Tejo

Fazendo versinho burdo!

*

Certa vez fiz um balurdo,

Sem prensa e sem instrutor.

Para atender ao pedido

De um ilustre senhor.

Dizendo: que era pro eixo

Da linha do Equador!

*

Do Freud eu fui professor

Ele e a sua senhora.

Bill Gates é meu aluno,

Eu ensino, Ele decora.

Não sei por que Ele é rico

E eu só vivo na penhora.

*

Curupira e caipora,
Foi tudo eu que inventei.
De um eu cortei a perna,
Do outro, os pés eu virei.
E a mula sem cabeça
Também fui eu que cortei!

*

Ouvi dizer que um rei,

Filho de Zé e Maria.

Ia nascer num estábulo

Por falta de hospedaria.

Fui lá e Fiz minha parte,

Essa qualquer um faria!

*

Peguei a estrela guia
Sua rota eu desviei.
E quando Jesus nasceu,
Os três reis magos guiei.
No caminho pra Belém,
Ao Herodes enganei.

*

Uma guerra eu acabei

E pra não contar bravatas.
Além de acabar a guerra,

Exterminei as baratas...
Com uma bufa turbinada
De ovo repolho e batatas!

*

Acabei com as mamatas

Dos políticos da nação.

Os conchavos e as propinas,

Passaram a ser ficção.

Quer saber quanto eu ganhei?

Nada, fiz por diversão!

*

Alimentei o leão
Que ia comer Daniel.
E Ele ao me agradecer
Disse: bravo menestrel.
Conte ao mundo a minha História
Nos seus versos de Cordel...

*

Nunca gostei de bordel,
Mas com doze anos de idade.
Acho que foi a primeira
Vez, que eu fui à cidade.
Passei o dia na zona,
Voltei sem a virgindade!

*

Ensinei jogo e ruindade
Ao Donald Trump em Las Vegas.
Depois trouxe pro Nordeste
Para conhecer os bregas.
Se eu não tenho o que Ele tem,
Foi por que apostei as cegas!

*

Pra quem só quer ser as pregas,

Mas deve em tudo o que é praça.
Inventei calça sem bolso
E uma nuvem de fumaça.
Que é para o credor não ver
Quando o velhaco passa.

*

Movido pela cachaça,
Até mosca eu adestrei.
Os cabelos de Sansão
Também fui eu que cortei.
Tudo que é imaginável
Na terra, eu já inventei!

*

O tal casamento gay,

Que hoje é tão comentado.

Cá em Rafael Fernandes,

Faz tempo que é liberado.

Mas não diga que fui eu

Pois posso ser processado!

*

Eu já voltei ao passado

Sem sair do meu presente.

Já dei asas para cobras

E pernas para a serpente.

Mas depois que fui mordido

Me arrependi totalmente.

*

Já fiz seca com enchente

E um inverno no verão.

Fui terror dos cangaceiros

E ao brigar com Lampião.

Botei-o para correr

Com seu bando do Sertão!

*

Já fiz padre e sacristão

Correr de batina erguida.

Dormi em casa sem teto,

Pra não ficar sem guarida

Fiz o que você não faz,

Nem nessa nem noutra vida!

*

Eu inventei a bebida,
Que mata e não mata a sede.
Só não fabriquei o vento
Que vem quando estou na rede.
Mas aumento e diminuo
Batendo o pé na parede!

*

Jesus disse: vinde e vede...
Digo: eu não sou só mais um.
Sou um cidadão pacato,
Com aparência comum.
Mas meu conteúdo é único
E o meu verso é incomum.

*

Eu não inventei nenhum

Velhaco ou raça bandida...

Porque eu quero é distancia

Dessa raça corrompida.

Velhaco só atrapalha,

Na chegada e na saída.

*

Fui eu que a descida
Pra poder eu descansar.
Depois de uma subida,
Descer sem me esforçar.
Nesse subindo e descendo,
Não seu mais como parar!

*

Eu montei e sei domar
um cavalo sem arreio.
Deixo manso pra corrida,

Exibição e passeio...
Sendo um cavalo de pau
Eu monto até em rodeio!

*

Eu já entortei sem medo
O dedo de um valentão.
Só porque ele apontou
Ele em minha direção.
E acordei todo mijado
Deitado encima da mão!

*

Criei Dalila e Sansão,

A traição e o castigo.

Todos os sinais de alertas,

Avisei sobre o perigo.

Não ganhei nem um aperto

De mão ou abraço amigo!

*

Já assustei papa-figo
Que assustava moleque.
Hoje eu vivo me assustando
E assustaram até meu cheque.
Mamãe se assustou e disse:
Filho, não minta, não peque.

*

Já tomei cana e pileque
Quente, pura ou com limão.
Que se fosse armazenada
De uma vez num caldeirão.
Dava pra encher açude
E enchente em ribeirão...

*

Eu sou filho do Sertão
me criei lá na caatinga.

Acho que fui batizado,

Com açúcar limão e pinga.

Por isso o meu pai dizia:

Esse se escapar, não vinga!
*

Sou azes e sou coringa

Tudo em um só baralho.

Sou mais raro e procurado

Do que cedro ou carvalho.

Mesmo quando eu não posso

Fazer, sou o quebra galho.

*

Não inventei o trabalho,

Mas aprendi descansar.

Se sei que o trabalho cansa

Pra evitar me cansar.

Eu passo o dia e a noite

Deitado e sem trabalhar!

*

Fiz um eixo pra girar

A terra em torno do sol.

Fiz as muralhas da China

Mais torta que um caracol.

E nem precisei sair

Debaixo do meu lençol!

*

Eu entortei o anzol,

Fiz a barbatana e a isca.

Inventei o vaga-lume

Em forma de pisca-pisca.

Transformei mulher direita,

Na chamada boa bisca.

*

D-eu fogo eu faço faísca,

Assovio e chupo cana.

M-isturo água com óleo,

I-mproviso uma cabana.

A-dultero até o vento,

O ano, o mês, a semana...

*

Fim.

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