sexta-feira, 21 de outubro de 2011

O Cordel... em oitavão rebatido * Autor * Damião Metamorfose.


*

O Cordel é oriundo

De Portugal, tenho lido.

Mas cá nos confins do mundo,

No meu Nordeste querido.

Foi onde ele enraizou,

Rasgou o chão se fincou,

Cresceu e frutificou,

Mais que oitavão rebatido!

*

No meu peito Ele pulsou

E eu fiquei comovido.

Feliz porque hoje estou,

Carregando esse apelido

De poeta Cordelista...

Mesmo um aprendiz de artista

O troféu que se conquista,

Tem oitavão rebatido!

*

Amor a primeira vista,

Com o Cordel e eu tem sido.

Ele me fez analista,

De um verso bem construído.

É uma antiga paixão,

Que não me rende um tostão

Mas rende satisfação

Em um oitavão rebatido!

*

Entreguei meu coração,

Ao ilustre conhecido

O Cordel, e Damião...

De mão dada tem seguido.

Essa é a dieta santa,

Do café almoço e janta,

Hora declama, hora canta

Hora oitavão rebatido!

*

O Cordel que me encanta,

Tem o verso bem medido.

E o poeta decanta,

No estilo preferido.

Bom para a declamação,

Ou musicado em canção,

O Cordel é a perfeição

Feito oitavão rebatido!

*

Métrica, rima e oração,

Ajustado e com sentido.

Tem que causar emoção...

Pois só leio o escolhido.

Cordel é a poesia,

Com selo de primazia.

Primo irmão da cantoria

E do oitavão rebatido!

*

Meu Cordel de cada dia

Para ser bem aplaudido.

Tem perfeita sincronia

No seu contexto, embutido.

Pois sem metrificação,

Pode ter rima e oração,

Que o Cordel perde a emoção,

Sem oitavão rebatido!

*

A rima e a oração

De um Cordel bem redigido.

Gera imagens e ilusão,

Preto e branco ou colorido.

O Cordel quando é bem feito,

Deixa o leitor satisfeito

E atinge o elo perfeito

Do oitavão rebatido!

*

Cordel tem causa e efeito

Da denuncia ao divertido.

Também merece respeito,

Na forma que é escrevido.

Cordel bom não é vulgar,

Serve pra rir e chorar...

Cordel não permite errar,

Nem oitavão rebatido!

*

Num Cordel posso lembrar

Saudade do tempo ido.

Viajar sem precisar

Do meu canto ter saído.

Cordel é uma mensagem

Que me leva a uma viagem,

Onde eu não pago a passagem

No oitavão rebatido!

*

Meu Cordel tem a coragem

Do caboclo destemido.

Por não ser de pabulagem,

Deixo bem esclarecido.

Sou melhor para compor,

Não sou bom declamador.

Mas vou ficar... Sim senhor,

Nesse oitavão rebatido!

*

Noites de frio ou calor,

Sem sono, acho um sentido.

Escrevo seja o que for

Depois releio e lapido.

Depois que esvazio a mente

Vou dormir tranquilamente

E abasteço-a novamente

Com oitavão rebatido!

*

O Cordel de antigamente

Era bem mais divertido.

O de hoje é bem diferente,

Mas o humor ta contido.

O humor e o Nordestino

São parceiros, seu menino.

E o Cordel é o meu destino

Nesse oitavão rebatido!

*

Sempre passo o pente fino

Nos Cordéis que tenho lido.

Se for ruim, com desatino,

Guardo em lugar escondido.

Escondo-o e depois esqueço,

Do seu último endereço,

Cordel ruim? Eu não mereço

Dou-lhe oitavão rebatido!

*

Cordel já tem baixo preço,

Quase de graça é vendido.

Mas a Deus eu agradeço,

Por ter o dom merecido.

Cordel não é só piada,

Sendo é pra ser bem contada.

Zero pra estrofe quadrada,

Sem oitavão rebatido!

*

Com capa xilografada

Ou um desenho puído,

Charge que é bem humorada...

Preto e branco ou colorido.

Todo com rima perfeita,

Métrica e estrofe bem feita,

Nesse o Meta se deleita,

É um oitavão rebatido!

*

Cordel ruim ninguém aceita

Vai passar despercebido.

Se for com rima imperfeita,

Não leio nem lhe convido.

Cordel tem que ser bem feito,

Com rima e verso perfeito,

Metrificado e no jeito

De um oitavão rebatido!

*

Em um banquinho eu me ajeito

Do meu jeito preferido.

Respiro e estufo o peito

E leio em um tom devido.

Eita como é gostoso,

Um Cordel bem engenhoso

De um poeta caprichoso

Em oitavão rebatido!

*

Uma estória de trancoso

Tudo bem distribuído.

Sem um teor duvidoso

Eu acho bem divertido.

Seja em folheto de não,

No som de casa ou carrão,

É cultura e diversão

Nesse oitavão rebatido!

*

Cordel na minha visão,

É o melhor que eu tenho lido.

E com a modernização,

Só tem se sobressaído.

O Cordel modernizado,

Fica bem mais lapidado

Feito assim em um teclado

Com oitavão rebatido!

*

Sei que o Cordel no passado

Teve lugar garantido.

E hoje com tudo mudado,

Vai ter também não duvido.

Escrevendo e publicando,

Devagar vou me firmando,

Me aguardem que estou chegando

No oitavão rebatido!

*

Mais de dez anos rimando,

Longo trecho percorrido...

Pra não errar vou tentando,

Pra não ser incompreendido.

Sempre tem alguém sabendo

Mais do que eu, eu entendo

E ensinando e aprendendo,

Faço oitavão rebatido!

*

Em casa estou sempre lendo,

E o que é bem construído

Fico em silencio dizendo:

Merece ser aplaudido.

Mas tem cordéis por aí,

Que eu li e me arrependi

Pois ruim igual nunca vi

Sem oitavão rebatido!

*

Pra chegar até aqui,

Muito eu tenho escrevido.

Dinheiro eu não consegui,

Mas juro foi divertido.

Não me considero um vate,

Mas nunca Fuji de embate,

Se não ganhei deu empate,

Nesse oitavão rebatido!

*

Não adianta disparate,

Pra um Cordel bem construído.

Se o cão que morde, não late,

Evite assim o latido.

Escolha a boa oração,

Evite o tal palavrão,

Fale a língua do “povão”

No oitavão rebatido!

*

Cordel se faz por paixão,

Pois por dinheiro eu duvido.

Que saia com emoção

Ou ao menos divertido.

Eu escrevo por lazer,

Amor, paixão e prazer

E hoje eu não sei viver

Sem oitavão rebatido!

*

Eu não paro de escrever

Meus Cordéis e tenho lido.

Dos outros pra conhecer

Estilo não “conhecido”

Mas prefiro andar nas trilhas,

Das setilhas e sextilhas

E além dessas maravilhas...

Tem o oitavão rebatido!

*

Cordel recarrega as pilhas,

Assim fico abastecido

Pra desbravar novas trilhas,

Em lugar desconhecido.

Sou um poeta andarilho,

Buscando sem empecilho

Os versos com estribilho

Nesse oitavão rebatido!

*

Comparo a estrofe a um filho,

Que por outro é aludido.

E ao recitar dá o brilho,

No conteúdo contido.

O que eu escrevo agora,

Ganha esse mundão a fora,

Eu esqueço e outro decora,

Em oitavão rebatido!

*

A mente manda pra fora

O que nela está contido.

E assim que o Cordel aflora

Com o assunto imbuído.

Ai é só explorar

O assunto e lapidar

E se possível editar

Em oitavão rebatido!

*---

Cordel não é só rimar

Com estrofes sem sentido.

A oração tem que brilhar

E o conjunto ser munido.

De intriga, humor e paixão...

Pois além da oração,

Tem a metrificação.

E o oitavão rebatido!

*

Os Cordéis para mim são

Como um mundo colorido.

Um parque de diversão,

Onde tudo é divertido.

E o poeta brinca e dança,

Com as letras igual criança,

Bem mais feliz quando alcança

Um oitavão rebatido!

*

Eu não perco a esperança

De ver o ensino imbuído.

Escola e encordelança,

Para o aluno instruído.

Descobrindo se é poeta

E assim atingir a meta

Na rima rica e completa

De um oitavão rebatido!

*

Cordel sem rima incompleta,

Cordel com verso instruído.

Cordel do bom ninguém veta,

Cordel doado ou vendido.

Cordel minha estrela guia,

Cordel antiga magia,

Cordel perfeita poesia,

Em oitavão rebatido!

*

Coco verde e melancia,

Talvez o Cordel mais lido.

Muito difícil hoje em dia

Ter pra ler, pois tá sumido.

Se a história é tao falada,

Com certeza é procurada.

Por isso ela é divulgada

Nesse oitavão rebatido!

*

Cordel é a língua falada

Pelo povo mais sofrido.

Que vai do cabo da enxada

Ao vaqueiro destemido.

Meu comentário se estende...

Um burguês jamais entende.

Pena que o Cordel não vende,

Por oitavão rebatido!

*

Tem Cordel sobre duende,

Ladrão, honesto e bandido.

Político que se arrepende

De mentira, arrependido.

Cordel é um grande invento,

Que merece no momento,

Divulgação e evento

E um oitavão rebatido!

*

Eu tenho em meu aposento

Cordel, para ser vendido.

Uns cem títulos no momento,

É pouco, mas é sortido.

Tenho de poeta famoso,

Anônimos e talentoso

E como eu, corajoso,

No oitavão rebatido!

*

Cordel é tao gracioso,

Que até fiquei esquecido.

Que quando ele é grandioso

Cansa o leitor e o ouvido.

Desculpa ao leitor eu peço,

Pois esqueci eu confesso,

Foi culpa minha o excesso

Desse oitavão rebatido!

*

Fim.

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