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Inspirado em um soneto do mesmo autor.
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Não tem cheiro mais gostoso,
Do que o cheiro in natura.
Da garapa e mel de cana,
Do melado e rapadura.
Da batida e o alfenim,
Feito a mão e sem mistura.
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Da água fresquinha e pura,
Que desce no riachão.
Com a cor avermelhada
Ou roxa, conforme o chão.
Que no final vira lama
No fundo de um porão.
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Da época da plantação,
No baixio ou na chapada.
Da chuva apagando as cinzas
Da broca que foi queimada.
Ou no capim quase seco
No final da invernada.
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Na terra que foi cortada,
Com trator ou com arado.
Do suor se misturando
Com o solo semeado.
E o vento que sopra forte
Ou leve e bem orvalhado.
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Do café que foi torrado
E pilado em um pilão.
Da fumaça que exala
Na chaminé de um fogão
De lenha, em dias de chuva,
Longe da poluição.
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Nas caatingas do sertão,
Quando as folhas vão caindo.
Molhadas pelo sereno
Cedinho com o sol saindo.
E os água-pés no açude,
Quando as pétalas vão se abrindo.
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Cheiro de gado mugindo
E do estrume do curral.
Do pau darco bem florido
No meio do matagal.
E no pó que o vento trás,
Do pendão do milharal.
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Roupa seca no varal,
Sobre o vento balançando.
De um ferro cheio de brasas
A mesma roupa passando.
E a fumaça da panela
De rubação cozinhando.
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De um beiju quase queimando
Dentro de um alguidar.
Pronto para ir à mesa
Aguçando o paladar.
E a voz de mamãe dizendo:
É hora de acordar!
*
E o mais peculiar,
Que das narinas não sai.
De todos é que eu mais gosto,
Sinto saudade e me atrai.
O de um abraço suado,
De mamãe ou de papai.
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Fim
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22/09/2010
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