quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Alguns tipos de enterro* Autor: Damião Metamorfose.



*
Peço licença ao leitor,
Para narrar com cuidado.
Os enterros que já fui,
Mesmo sem ser convidado.
E se eu exagerar...
Peço pra me perdoar,
Por ter sido indelicado.
*
De acordo com o que deixado,
e citado em testamento.
Será maior o cortejo
E o sucesso do evento
Porem se for um mendigo,
Sem ter lapide nem jazigo,
Quebra uns cinquenta por cento.
*
Sendo de um rico tem lamento,
Ao contrario do emergente.
É tanta bajulação,
Que até quem não é parente.
Fica a noite de plantão,
Pra carregar o caixão,
Se apresentam na frente.
*
De um bebê, tem pouca gente,
Esse não tem carreata.
Vão uns vizinhos, uns amigos
E talvez uma beata.
Não tem multidão na praça,
É um evento se graça,
Sempre sai na hora exata.
*
Não há emoção mais grata,
Que ver um filho nascer.
Tê-lo envolvido em seus braços,
Educá-lo e ver crescer.
E a dor maior da vida,
É ter como despedida,
Ver esse filho morrer!
*
Mas um jovem ao falecer,
De acidente ou não.
Nem precisa divulgar,
Para juntar multidão.
E nesse o carro de som,
Só toca rock do bom,
Titãs, ira e legião...

*
As faixas escritas são,
Só com frases musicais.
Do tipo: os bons morrem logo
Ou falando de ideais.
Tem discurso de amigo,
Muitas velas no jazigo,
Que emocionam demais!
*
Cachaceiro são legais,
Não vejo ninguém chorar.
Só vêm alguns papudinhos,
De ressaca a soluçar.
Depois do enterro os amigos,
Vão ouvir bregas antigos,
Tomando uma no bar.
*
Pinguço tem que deixar,
Divida no bar de algum Chico.
E comerciante esperto,
Perdoa e nem quer fuxico.
Mais no final a patroa,
Paga tudo numa boa,
Só que como, eu não explico.
*
Já enterro de político,
Desses de alto escalão.
A elite podre vem toda,
Chega a dobrar quarteirão.
Na frente um carro importado,
Top de linha blindado,
Para levar o caixão.
*
E aproveitam a ocasião,
Pra distribuir santinhos.
Aperto de mão, sorrisos,
Fazer discurso mesquinho.
É a arte da esperteza,
São mestres em safadeza
E crimes de colarinho...
*
Mas político pobrezinho,
Considerado direito.
Só vem a malha miúda,
Vereador, ex, prefeito...
Velam lá no salão nobre,
Mais como tem pouco cobre,
Vai na mão mesmo é o jeito.

*
De sogra não tem proveito,
Achei um pouco sem graça.
Tinha chá, bolo e café...
Só faltou mesmo à cachaça.
Nesse um genro fez protesto,
E inventou um manifesto,
Pra fazer festa na praça.
*
Em outro eu vi arruaça
e umas comemorações.
Fiquei olhando de longe,
Pra não dar nem sugestões.
Boa ou ruim a sogra é deles,
Mais deu para ver que eles,
Tinham lá suas razões.
*
Um que não faço menções,
É o enterro de anão.
Pois eu nunca vi um morto,
Nem vou dar opinião.
Mas se eu presenciar,
Prometo que vou contar,
Numa outra edição.
*
Se o anão morre ou não,
Isso é segredo de estado.
Ou como o grande Elizeu,
Ele é arrebatado.
Ou como a águia se esconde,
Num lugar que não sei onde,
Só pra não ser enterrado.
*
De gay é inusitado,
A maioria é cremado.
E depois em cada esquina,
O seu pó é espalhado.
Porque na atualidade,
Seja no sitio ou cidade,
A classe tem aumentado.
*
E o pó deve ser jogado
nas ruas, em cada esquina.
Que a cada dia aumenta,
Barbados de fala fina.
Rebolando o fiofó,
Deve ser com esse pó,
Que o cabra se contamina.

*

Caloteiro é uma ruína,
quando morre um trapaceiro.
Deixa a viúva quebrada,
Em colapso financeiro.
E a mesma por sua vez,
Caloteia logo três,
Padre, caixão e coveiro.
*
Em casa de caloteiro,
Tem conta por todos os lados.
Água, luz e telefone,
Açougue e supermercados.
Depois que enche a barriga,
Com o credor se intriga,
São todos uns cabras safados!
*
Enterros são engraçados
E o que achei mais divertido
Foi lá na rua da lama,
Em um lugar escondido.
Na casa da jacutinga,
Com vinho, cerveja e pinga,
E prazer no bom sentido.
*
Um que eu vou e convido,
É enterro de rapariga.
Pode ir que é uma festa,
Quem já foi a um que diga.
Lá a gente canta e dança,
Bebe até encher a pança,
E no fim acaba em briga!
*
Vagabundo, esse não siga
E se estiver na prisão.
Desses bem considerado,
Com patente de ladrão.
Tratam com todo o respeito,
E até levam o sujeito,
Na mala do camburão.
*
Mais se for só um ladrão,
Desses que ninguém respeita.
Sendo em caso de homicídio,
Não existe nem suspeita.
Estando em casa ou na sela,
Não tem choro nem tem vela,
E a cova é uma vala estreita.

*
Seja acidente ou maleita...
Cada um vale o que tem.
Quem planta o mal, colhe o mal,
Quem faz o bem, colhe o bem.
Seja educado ou hostil,
Quem tiver mil, vale mil,
Quem tiver cem, vale cem.
*
Vamos do mundo pro além,
Renascemos pra Jesus.
Plantando trevas, tem trevas,
Só tem luz, quem plantou luz.
Eu não acredito em sorte,
Nem tenho medo da morte,
Essa inevitável cruz!
*
O vaidoso faz jus,
Pra tentar se promover.
Assassina, mente e rouba...
Faz quem te ama sofrer.
Em nome da vaidade,
Mobiliza uma cidade,
Mesmo depois de morrer.
*
Eclesiastes ao dizer:
Tudo aqui é vaidade,
Ventos que vem e que passam,
Novo não é novidade.
Debaixo do céu meu povo,
Não existe nada novo,
Nem cem por cento verdade.
*
D-eus fez todos sem maldade,
A-Adão e Eva entregou.
M-ais o demo vaidoso,
I-mpos e contaminou.
A-inda bem que Jesus...
O-nipotente voltou.

*

Fim.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Nota de falecimento e convite enterro* Autor: Damião Metamorfose.


*
Convido parente e amigos
E o povo em geral.
Pra se fazerem presentes
Na igreja paroquial.
Terá missa com o vigário
E o cortejo no horário,
Pro cemitério local.
*
Venha para o funeral,
Faça esse ato de fé,
Solidariedade humana
Perante a santa sé.
-assim o convite é feito,
Vem gente de todo jeito,
De carro, moto e a pé.
*
Vai do rico ao mais ralé
E eu com os meus botões.
Procurando umas respostas...
Só acho interrogações.
Gostaria de saber:
Por que tanta gente crer,
Em crendice e tradições?
*
Por que vai gente aos milhões,
Pra conduzir um caixão.
Uns chorando outros rezando,
Outros só por babação.
Não sou cético e nem ateu,
Mas rezar pra quem morreu
Será que traz salvação?
*
Passa a vida em perdição,
Bebendo e raparigando.
Não dá carinho pros filhos,
Com a mulher, vive brigando.
Morre e levam para a igreja,
Velas em vez de cerveja,
A quem estão enganando?
*
Um carro de som rodando,
Pelas ruas da cidade.
Diz: que é um ato de fé
Cristã, solidariedade.
Marcando data e horário,
Será que é necessário,
Isso é fé ou vaidade?
*
Radio e jornal da cidade,
Até na televisão.
Divulgam em horário nobre,
Aquela badalação.
Só pra enterrar um pé junto
E provar que o defunto,
É o bom da região.
*
Depois que forma o cordão,
Com faixa, flor e coroa...
Falando bem do canalha,
Salmos escritos à toa.
E os amigos em casa,
Já vão arrastando a asa,
Pela herança da patroa.
*
Desfilam falando loa,
Uns querendo se mostrar.
Usando óculos escuros,
Que é pra ninguém notar.
Que não está preocupado,
Com aquele caixão do lado,
Pois quer mesmo é desfilar...
*
Olhar pro outro e falar,
Da saia curta ou vestido.
Dos chifres que a viúva
Levava do falecido.
Ou dos que ela botava,
Quando ele se ausentava,
Nos tempos de pervertido.
*
O furdunço é garantido,
Por testamento ou herança.
Para saber se ele tinha,
Conta corrente ou poupança.
Pra ninguém desconfiar,
Eles encenam chorar,
Até os filhos são chupança!
*
Chega à igreja com tardança
E a fila faz quarteirão.
O cabra já vai fedendo,
Mas só por bajulação.
Para o babão não tem jeito,
Pra ver de perto, o sujeito
Tira a tampa do caixão.
*
Já fedido igual o cão,
Mais roxo que violeta.
Mas pra agradar a viúva,
O babão nem faz careta.
E ainda diz mentindo,
Parece que está sorrindo,
Pense num patrão porreta!
*
Chamam um padre picareta,
Meia dúzia de assistente.
Para fazer um sermão,
Tem que ser bem comovente.
E o danado do defunto,
Mesmo há um dia de pé junto
Inda transpira aguardente.
*
Missa de corpo presente,
Tem sempre aquela mensagem.
Falando do homem bom,
Dos seus atos de coragem...
Uma viúva chorando
E um tarado consolando,
Já pensando em sacanagem.
*
Um padre com uma imagem,
Diz: o nosso irmão gentil
Foi para o andar de cima,
Deixando esse mundo hostil.
Era um homem respeitado,
Deus tem lugar reservado...
Mentindo de forma vil.
*
Joga a água de um cantil
Dizendo ser água benta.
Parece nem ser tratada,
Porque tem a cor barrenta.
Mas no mundo da mesmice,
Para quer crer em crendice,
Essa tradição fermenta.
*
E o “bom” político comenta:
Eu não perco essa bocada.
Mesmo sendo adversário,
Vai com a cara lavada.
Se infiltrar na multidão
E de tanto apertar mão,
Fica de munheca inchada.
*
E o padre faz enxurrada,
Com água benta ou não.
Que deixa o piso da igreja,
Parecendo alagação.
Deixa o defunto molhado
E o caixão alagado,
Com tanta bajulação.
*
Com o atraso do sermão,
Já passa do meio dia.
O defunto todo inchado,
A inhaca que irradia.
O mastigado aumentando,
O sol a pino esquentando
E o coveiro já bebia.
*
Enfim sai a confraria,
Carregando o caixão.
O cheiro que já é forte,
Dispersando a multidão.
Mas os fieis escudeiros,
Pra levar são os primeiros,
Quem é babão, é babão...
*
Passando de mão em mão,
Musica gospel no cortejo.
Mas se o defunto pudesse
Realizar seu desejo.
Era um bregão bem safado,
Um forró modernizado
Ou um modão sertanejo.
*
Quando tem enterro eu vejo,
Parece uma procissão.
Bem na frente vão a faixas,
Coroas, flores, caixão.
Filmagem e tudo é o fraco
E o numero de puxa saco,
Sempre arrastando o cordão.
*
E o coveiro de plantão,
Que está de tanque cheio.
Compra mais uma garrafa,
Pois já tomou a que veio.
E do jeito que ele está,
Se errar o rumo da pá,
Rola o defunto no meio.
*
Depois parece um recreio,
Morte é passado, é saudade...
Uns vão para um restaurante
Ou barzinho da cidade.
E com água, não a benta,
Ouve um som, dança e comenta,
Luxo, sexo e vaidade...
*
Eu na minha mocidade,
Sempre achava isso normal.
Mas depois que eu cresci,
Fui morar na capital.
Sou uma pessoa vivida
E ignoro quem convida,
Amigos pra um funeral.
*
Que me chamem de animal,
Tabaréu lá do carrasco...
Que escapou com preá,
Pegado lá no penhasco.
Então faça diferente
E convidem essa gente,
Pra comer um bom churrasco.
*
E pra não ser um fiasco,
Contrate um carro de som
E saia de rua em rua,
Convidando em alto tom.
Chame o povo para a festa
Ou outra coisa que presta,
Que eu digo: oh cabra bom!
*
E não encha o saco com
Defunto para enterrar.
Chame uma funerária,
Que tem carro pra levar.
Porque eu não vou sair
De casa para assistir,
Essa cambada chorar!
*
Seu que eu não posso mudar,
As tradições do passado.
Mas se convidar já sabe,
Eu não atendo o chamado.
É que eu gosto é de festa,
Enterro pra mim não presta
Nem quero ser convidado!
*
D-esde o tempo passado
A-té hoje é assim.
M-as eu não gosto de enterros,
I-sso eu nem sei se é ruim.
A-gora caro leitor
O Cordel chegou ao fim!
*
Fim.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

A espera * Autor: Damião Metamorfose.


*
A espera acabou agora eu sei,
Que você não vem mais me visitar.
Mesmo assim hoje quando eu acordei
Escutei sua voz a me chamar.
*
Nas gavetas do peito eu procurei
E encontrei na primeira que abri.
O amor que é só seu e coloquei
Bem distante da angustia que eu senti.
*
Te beijei a distância e em oração,
Pedi para Deus te dá proteção
E afastar-te da saudade quimera
*
Ao fechar a gaveta eu vi que a vida,
Sem você e o adeus da despedida
É mais leve e melhor do que a espera!

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Musica pra vender bananas * Autor: Damião Metamorfose.


*
Sou do tempo que a musica
Era cultura e raiz.
Os bailes eram em latadas,
Tocador era aprendiz.
Bom forró é o que se ouvia,
Mulher se chamasse ia,
Pra repetir era um bis.
*
Tive uma infância feliz...
Depois eu te conto o resto.
Nesse cordel eu pretendo,
Registrar o meu protesto.
Sobre o forró atual,
Que é só lixo musical,
De mau gosto e indigesto.
*
Sou nordestino e detesto,
O forró com putaria.
Que faz questão de lançar
Uma banda nada por dia.
Com nome e bordão sem nexo,
Letras falando de sexo,
Sem rima e sem poesia.
*
Divulgam pornografia,
Material copiado,
Cada festa é um cd
Ao vivo e mal acabado.
Pra piorar a demanda,
Recheiam com propaganda,
Pra livrar algum trocado.
*
O palco é sempre enfeitado,
Com nome de prefeitura.
O corpo de bailarinos,
É libidinagem pura.
A festa é sempre de graça,
É pão e circo na praça,
Álcool e drogas, a mistura.
*
Sempre fui contra a censura
E a favor do bom gosto.
Mas ouvir musica babaca,
Não é gosto, é desgosto.
E se for em paredão
Não tem saco nem culhão
Que auguente, é um encosto!
*
Musica pra mim é o composto
De letra com poesia.
Mensagem boa e direta,
Bons arranjos, melodia.
Mas isso que o povo escuta,
Que chama a mulher de puta...
Não é musica, é baixaria.
*
Se não tiver putaria,
Não faz sucesso na praça.
Os CDs são tão ruins,
Que nem vendem, é de graça.
É o gosto da maioria,
Mas pra mim é porcaria,
Não ouço nem com cachaça.
*
E quando o sucesso passa,
Pra não morrerem de fome.
Eles mudam os integrantes,
O produtor e o nome...
Sempre um nome parecido,
Usando um duplo sentido,
Pra ver se o povo consome.
*
Não conheço quem me dome
E me convença a escutar.
O que eles chamam de musica
E o rádio insiste em tocar.
Não ouço, não tem quem faça,
Nem em casa e nem na praça,
Detesto musica vulgar!
*
Se alguém me presentear,
Com um cd de qualidade.
Eu escuto, guardo escuto...
Mas se for ruim é maldade.
Eu devolvo o tal presente,
Digo que não sou demente,
Se tiver necessidade.
*
Quem preserva uma amizade,
Não dá um presente assim.
Quem gosta de boa musica,
Não escuta a que é ruim.
E essas bandas de hoje em dia,
Só promovem putaria,
Com conteúdo chinfrim.
*
Meu protesto chega ao fim,
Mas nas próximas semanas.
Vão surgir umas dez bandas
E outras dez letras sacanas.
Musica em estilo vulgar,
Deveria se chamar,
Musica pra vender bananas.
*
Fim.

A despedida do trema * Autor: Damião Metamorfose.


*
Esse mini cordel foi baseado no texto publicado na revista Offline nº16
Autor do texto original: Lucas Nascimento.
*
http://oblogk.wordpress.com
*
Adeus! Estou indo embora,
Pois inventaram um motim.
E me expulsaram do “U”
E sem ele é o meu fim.
Com a reforma ortográfica,
Não tem mais lugar pra mim.
*
A noticia foi tão ruim,
Deixou-me entristecido.
Logo eu que sempre fui
O acento mais esquecido.
Agora é definitivo,
De uma vez fui excluído.
*
Sempre fiquei escondido,
Na lingüística portuguesa.
Tiraram-me da lingüiça,
Do cinqüenta e com certeza.
Sai do dicionário,
É grande a minha tristeza.
*
Fui fazer minha defesa,
Com os pontos do alfabeto.
Mas nenhum me deu apoio,
Acharam que está correto.
Até o “U” disse: não!
Logo ele, o meu dileto.
*
Disse: que sem eu no teto,
Vai ficar aliviado.
Com os dois pontos também,
Fui mal recepcionado.
Chamaram-me de preguiça,
Porque eu ficava deitado.
*
Cedilha foi mal criado
E a favor da expulsão.
Logo ele que se passa
Por um “S” disse: não.
E nunca inicia a frase,
Isso é muita ingratidão!
*
O “O” esse gorduchão
E o anoréxico do “I”.
Também me viraram as costas,
Foi ai que entendi.
Que nem o ponto final,
Queria-me por aqui.
*
Nessa hora eu resolvi
Arquitetar outro plano.
E inventei um topete,
No estilo moicano.
Pra me parecer com aspas,
Mas entrei foi pelo cano!
*
Esse irreparável dano
Eu acho uma delinqüência.
Mas a moda agora é:
A falta de inteligência.
E vocês me expulsaram
Sem pensar na conseqüência.
*
Também acho uma demência,
A substituição.
Que tem nesse tal twitter,
Que falta de inspiração.
Se o tüiter fosse assim,
Tinha mais aceitação.
*
Com razão ou sem razão,
Vou ter que me retirar.
Vou morar na Alemanha,
Lá ninguém vai me expulsar.
E além de ser adorado,
Vou poder filosofar.
*
Pra História eu vou entrar,
Vamos nos ver nos artigos.
Manuscritos, pergaminhos,
Revistas, livros antigos.
E é dessa vez que eu mato
De inveja os meus ex: amigos.
*
Alertei para os perigos,
Barganhei, tentei esquema...
Ninguém me deu atenção
E já que sou um problema.
Fui obrigado a fazer,
A despedida do trema!
*
Fim.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Falando em internetês * Autor: Damião Metamorfose.


*
Há tempos que os brasileiros
Não falam só português.
E o idioma da moda,
Não é latim nem Francês.
No Brasil globalizado
Quem é “atualizado”,
Fala e escreve internetês.
*
Com o português e o inglês,
Foi feito uma junção.
Acrescentaram alguns símbolos,
Fizeram abreviação.
-Bom! Vou tentar descrever,
Que é pra você entender,
O dialeto em questão.
*
Naum, ñ, n, é não,
Verdade é vdd.
Tudo bem, td, bm,
Aceita é acc.
Até mais, t+, té+,
Comigo é cmg.
*
Hoje, hj e og,
Obg, é obrigado.
Firmeza, fmz,
Fms abreviado.
Beleza é blz,
Feiúra não foi criado.
*
Aqui, aki, é falado,
Adiciona, é add.
Valeu, é vlw,
Demais, d+, E, é eh,
Falou, flw,
Mais é +, por quê? Pq?
*
Acho, axo, de, é d,
Kbça é cabeça.
Tchau é xau, ah tá é ata,
Teclar tc, não esqueça.
Não é, né, neah e neh,
O mundo esta a avessa.
*
O português que pereça
Ou que vá se acostumando.
Com o novo dialeto,
Que os jovens estão falando.
S,y digo: sim,
Tb tô me adaptando.
*
Qdo é o mesmo quando,
Qndo também.
8 do bm é o mesmo
Que dizer: Oi tudo bem?
Rs ou kkk
É risos ou rir de alguém.
*
Para o também, também tem,
O tbm e o Tb,
Tmbm e o último
Que é o tmb.
Vocês, vcs6
V6 e você, vc.
*
Por favor, plz,
Pls e plis,
Também pode usar, Pf,
Se você é um aprendiz.
Mas depois aprenda os outros
E deixe o ego feliz.
*
Beijo, bj se diz,
Nvd novidade.
Mas se quiser enfeitar
Pode-se usar, 9dade.
Faz favor, é, ff
Bdd é, só bondade.
*
Se você sentir saudade,
Da cartilha do abc.
Do tempo que o “qualquer”
Não se escrevia qq.
Reaprenda a nossa língua
Ou vá para a pqp!
*
Faço um pedido a você
E por que não, a vocês.
Não façam uma redação
Usando o internetês.
Porque a língua oficial
Ainda é o português.
*
Pois se fizer perde a vez,
De entrar pra faculdade.
E você que é poeta
Escritor, por caridade!
Não use o internetês,
Porque perde a qualidade.
*
O Poeta de verdade,
Que tenha ou não tenha fama.
Sabe que o internetês
Atrapalha quem declama.
Tira o brilho da poesia
E joga o texto na lama.
*
Mas a juventude ama,
Tudo que é modernidade.
E usa abreviações
Pra ter mais facilidade.
Na hora que vai teclar,
Tem bem mais agilidade.
*
Sei como é a mocidade
E a liberdade é assim.
O que pra você é bom,
Para eu pode ser ruim.
Internet tem de tudo,
Só o bom, pego pra mim.
*
D-o começo até o fim,
A-bordei o internetês.
M-inimizei as palavras,
I-nformei para vocês.
A nossa língua inda é
O velho e bom português!
*
Fim.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Comparando o preso com o trabalhador * Autor: Damião Metamorfose.



*
Peço ao Deus onipotente,
Que me dê inspiração.
Para escrever um cordel
Fazendo a comparação.
Da vida de quem trabalha,
Com a vida na prisão.
*
Preso só tem solidão,
Quando não quer amizade.
Sua cela é três por três,
Dá pra ficar a vontade.
E a violência lá dentro,
É menor que na cidade.
*
Quem trabalha, é bem verdade,
Se for em um escritório.
É frio igual no Alaska
Ou quente igual purgatório.
Dois por dois é o espaço,
Que ele tem de território.
*
O preso tem refeitório,
Com três refeições por dia.
E tem assistência medica
E dental, com garantia.
E se ficar muito tempo,
Pagam-lhe boa quantia.
*
Quem trabalha, é covardia,
Só tem uma refeição.
Que descontam no holerite
E o seguro, é gozação.
Todo mês é descontado
E não cobre a precisão.
*
Pra quem vive na prisão,
Tendo um bom comportamento.
Reduzem a sua pena,
Sem tortura ou sofrimento.
E a mulher ao visitá-lo
Não traz aporrinhamento.
*
O trabalhador atento,
Quanto mais ele trabalha.
Mais aparece trabalho
E o colega ainda malha.
Bem feito, ele é puxa saco,
Merece é uma cangalha.
*
O preso tem é muralha
E um guarda a disposição.
Para abrir e fechar portas,
Também tem um de plantão.
Um banheiro privativo
E uma televisão.
*
No trabalho tem cartão,
Na saída e na chegada.
A porta é você quem abre
E tem que deixar fechada.
Televisão, nem pensar
E o banheiro é uma privada.
*
Preso que não dá mancada,
Autorizam receber.
Os amigos e os parentes,
Nenhum vem pra aborrecer.
Preso tem academia,
Banho de sol e lazer.
*
Trabalhador não vai ter,
Nem direito a visita.
Seu lazer dura uma hora,
Enquanto come a marmita.
E se demorar já sabe,
O manda chuva se irrita.
*
A prisão possibilita,
O viver sem trabalhar.
Imposto, água e luz do preso,
Tu sabes quem vai pagar?
É aquele que trabalha
Sem direito a reclamar.
*
Já parou para pensar
Sobre essa situação?
Ou saber por que o preso
Sempre volta pra prisão?
É por causa das vantagens
Que tem lá, espertalhão!
*
D-essa vez o seu patrão,
A-trasou para chegar.
M-as cuidado porque ele
I-nda pode te pegar.
A-í você vai pra rua
O-u preso por trabalhar!
*
Fim.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Obrigado! * Autor: Damião Metamorfose.


*
Eu não sou de blasfemar,
Pelo leite derramado.
Pois sei que nada é de graça
E o dado um dia é cobrado.
Por isso quando acontece
O que agrada ou aborrece...
A Deus eu digo: obrigado!
*
Tudo o que eu fizer de errado,
No passado ou no presente.
Vou ter que pagar um dia,
Aqui ou eternamente.
Não adianta eu me esquivar,
Porque o tempo vai cobrar,
De uma vez ou lentamente.
*
Tem certo tipo de gente,
Que só sabe reclamar.
Qualquer coisa que acontece,
Culpa o santo e o altar...
Eu não sei culpar ninguém,
Bom ou ruim, eu digo: amém!
Quero é rir, pra que chorar?
*
Eu quero é comemorar,
A vitória ou o fracasso.
E como não sei mandar,
Se der pra fazer eu faço.
O que não der, eu arquivo,
Faço depois e não privo
Meu descanso no cansaço.
*
Se não resolve no braço,
Eu uso a inteligência.
Se nem assim resolver,
Volto com mais paciência.
Se em tudo eu vejo beleza,
Pra que estresse e tristeza,
Sofrer e maledicência?
*
Eu já sofri de carência
E consegui superar.
Já paguei conta dos outros,
Sem direito a reclamar.
Agora eu quero é sorrir,
Deixar a vida fluir,
Interagir e amar...
*
Quando o tempo me cobrar,
Eu quero estar preparado.
Pra receber a cobrança,
Com um sorriso rasgado.
Bem demorado ou suave...
No fim a palavra chave
Vai ser: okei, obrigado!
*
Por quem eu não fui amado,
Pra quem me fechou a porta,
Para quem me disse um não,
Nunca, talvez... Pouco importa.
Tudo já foi superado
E hoje eu digo: obrigado!
Pois não sou mais chave torta.
*
Obrigado! Fase morta,
Tu não serás esquecida.
Mesmo morta você foi
Lição de vida vivida.
Não dói mais nem é fadário
E hoje eu faço aniversario,
Todos os dias da vida.
*
Minha alma agradecida
Diz: obrigado e faz festa.
Se eu vivo da reciclagem,
De quem me ama ou detesta.
Vou reciclar com cuidado,
Pra ser reutilizado,
Somente aquilo que presta.
*
O belo se manifesta,
Na lapidação Fo feio.
Quem sabe viver com pouco,
Não mete a mão no alheio.
Se tem pedra eu meu caminho,
Eu desvio e com carinho,
Evito dizer: te odeio!
*
Na descida eu uso o freio,
Na subida eu acelero.
Se não tem jeito eu desisto,
Se demorar eu espero.
Sonho com os pés no chão
E o que não tem solução,
Eu arquivo e não me altero.
*
Não tenho tudo o que eu quero,
Mas o que eu tenho é suado.
Na minha casa não entra
Nada sem ser conquistado.
Sou pobre, humilde e feliz,
Eternamente aprendiz
E a Deus eu digo: obrigado!
*
Fim.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Relembrando o meu Pai, verídico * Autor: Damião Metamorfose.


Meu pai foi escravo branco,
Trabalhando no roçado.
Certa vez foi fazer cerca,
Com um patrão mal humorado.
Não pôs a vara direito
E o patrão insatisfeito,
Começou o mastigado.
*
Menez está tudo errado...
Seu Menez preste atenção!
Menez eu sei fazer tudo,
Meu pai disse: o que? Patrão.
Em tudo você é bom,
Você toca acordeom?
E ele respondeu que não.
*
Então pare esse sermão
E por favor, não se gabe.
Deixe de cuspir vantagens
Antes que você me babe.
Procure e tente entender...
Tem coisas que eu sei fazer,
Tem coisas que você sabe!