domingo, 5 de junho de 2011

O defensor do Nordeste * Autor: Damião Metamorfose.


*

Eu defendo o meu Nordeste,

Como um cão defende o muro.

Foi aqui que eu nasci,

Aqui me sinto seguro.

Posso andar o mundo inteiro,

Ganhar fortuna em dinheiro,

Mas volto pra cá, eu juro!

*

O Nordeste tem ar puro,
Para a gente respirar.
Dá pra se viver com pouco,
Não precisa se estressar.
Sem a ambição tamanha

O pouco que a gente ganha,
Tem Deus para abençoar!

*

Eu gosto de escutar,

Sozinho ou com alguém,

A passarada cantando

No quintal ou mais além.

Se fosse na capital,

Não vinha nem um pardal

Aqui vem até vem-vem...

*

Se um tem o outro tem,
Todo mundo aqui se ajuda.
Se um menino tem quebranto
Reza com galhos de arruda.
-Se você quer ir embora
Do Nordeste, pare agora,
Pense um pouco e não se iluda!

*

Lá fora é um Deus nos acuda,

Não é vida, é uma roubada.

Todos vivem assustados,

Mata-se e morre por nada.

Já aqui no meu Nordeste,

Com pouco se come e veste

E tem vida sossegada.

*

Nordeste é minha morada,

Minha crença e religião.

História da minha vida,

Caso de amor e paixão.

Sou Nordeste cem por cento,

Eu digo assino e sustento,

Lugar melhor, não tem não!

*

Lugar que frei Damião
escolheu para morar.
Onde o sol brilha mais forte
e assim também é o luar.
Adoro ser sertanejo
Sem modismo e com festejo
O Nordeste é o meu lugar!

*

O Nordeste é o meu lar
E essa família eu defendo.
Em qualquer parte do mundo
Eu conheço um só vendo.
-Me humilharam no Sudeste,
Mas eu sou cabra da peste
Sertanejo e não me rendo.

*

No “Sul” acabei comendo,
Do requentado ao azedo...
Só andava atravessado,
Desconfiado e com medo.
O Sertão é meu apego,
Nordeste me dá sossego,
Daqui não saio tão cedo!
*

Um quintal com arvoredo,
Pinha acerola, mamão...
Isento do agrotóxico
Que causa intoxicação.
Colher maduro no pé,
Diga-me aonde isso é
No centro urbano ou Sertão?
*

Salve toda essa nação,
Do Centro Oeste e Sudeste,
Leste, Oeste, Norte e Sul
E o meu imenso Nordeste.
Provando ao mundo inteiro
Que o nosso povo guerreiro,
Há tempos passou no teste!

*

Terra de cabra da peste,

É Nordeste ponto com.

Aqui se faz musica boa

E escrever Cordel do bom.

O Nordestino é um forte,

Que faz sua própria sorte

Só basta Deus dá o dom

*

Forró com acordeom
No ritmo do coração.
Com triangulo e pandeiro,
Zabumba na marcação.
Pode até ter na cidade,
Mas o forró de verdade,
Só tem aqui no Sertão.

*

Aqui eu sou meu patrão,

Meu chefe e meu empregado...

Na capital eu só era

Um peão, um pau mandado.

Não sou um bicho do mato,

Mas gosto de ser pacato,

Sem um carrasco do lado!

*

Fui criado no roçado,

Limpando roça no eito,

Puxando cobras pros pés,

Andando em caminho estreito.

Mas é daqui que eu gosto

E é aqui que eu aposto

Que vivo mais satisfeito.

*

Digo: abaixo o preconceito

Com o povo Nordestino.

Preconceito esse que

Eu sofro desde menino.

-Será que ninguém notou

Que um Nordestino mudou

O Brasil e o seu destino?

*

Asa branca é o meu hino

Nordeste é minha matriz.

O Brasil é minha pátria

Denominada, país.

Aqui meu verso não mente,

Aqui eu digo: oxente!

Aqui eu sou mais feliz...

*

Aqui eu tenho raiz,

Raiz essa que eu zelo.

Zelo esse, que em versos

Eu mostro o que há de mais belo.

Nordeste seco é cinzento

De céu azul opulento,

Molhado, é verde e amarelo...

*

Nem a morte quebra o elo

Entre o Nordeste e eu.

Posso morrer onde Judas,

Até as botas perdeu.

Que eu deixo a minha semente

Plantada em forma de gente

E um pouco do que foi meu.

*

Se a fome não me venceu,

É porque ela sabia.

Que aquele sobrevivente

Cantava ela em verso, um dia.

Ela: a fome foi vencida,

O Nordeste me deu vida

E eu vos dou essa “poesia”.

*

D-eus me deu sabedoria,

A-judou-me em cada teste.

M-aquinou cada estrofe,

I-mperfeita ou inconteste.

A-gora entrego a vocês,

O defensor do Nordeste!

*

Fim.


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